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Álvaro dos Santos Lé
1888 - 1944
Álvaro dos Santos Lé nasceu a 13 de dezembro de 1888, na Rua Direita, em Aveiro e faleceu a 13 de dezembro 1944, na mesma cidade. Foi aluno do Colégio Aveirense, do Liceu Nacional e de Júlio Hugoline - mestre de música e canto e comendador da Real Câmara Portuguesa.
Este aveirense viajou por Itália, França e Brasil onde revelou talentos e aperfeiçoou conhecimentos. No que concerne ao seu percurso profissional, este foi essencialmente um talentoso amador de canto e comerciante, quer na sua terra natal, quer no Brasil.
Álvaro Lé estreou-se, pela primeira vez, no ano de 1908, no Teatro da Paz, num sarau musical, cantando o trecho Vesti la giuba, de Leoncavallo; cantou também em Manáus, em soirées literário-musicais, bem como no Teatro Amazonas, tornando-se notável com trechos como a Favorita, Tosca, Rigoleto e Pagliaci. Em 1910, no templo de S. Bernardino, em Aveiro, cantou para a população aveirense, numa festa em honra do Sagrado Coração de Jesus; onde no local recebeu inúmeros aplausos.
No decurso do ano de 1913, cantou também no Teatro Aveirense e em diversas festas religiosas. Este conceituado aveirense foi ainda membro integrante da Filarmónica José Estêvão, então regida pelo irmão, António dos Santos Lé.
Fontes: Aveiro – Aveirenses Notáveis, Rangel de Quadros, ed. CMA, 2000, pp. 413-414 e Testemunho oral de Gonçalo Lé, 68 anos, natural da freguesia da Glória (filho do evocado).
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Aires Barbosa [Aires de Figueiredo Barbosa]
1470 - 1530
Grande erudito e humanista português, a quem lhe foi atribuído o epíteto de Mestre Grego, nasceu em Aveiro, em 1470 e faleceu em Esgueira, por volta do ano de 1530. Cursou os seus estudos, com distinção, na Universidade de Florença e de Salamanca, tornando-se depois, em 1495, um eminente professor desta última Universidade, para as cadeiras de Retórica, Latim e Grego. Em Itália ficou célebre pelo domínio da Arte da Oratória e em Espanha pela introdução aos estudos da cultura grega.
Escreveu várias obras sobre poesia, crítica literária e gramática, sendo as suas obras mais relevantes: os Comentários à História Apostólica de Arator; a Antimoria, poema onde refuta as teses de Erasmo de Roterdão e a De Prosódia, onde faz referência à sua terra natal.
Este insigne foi responsável também pela edificação, em Esgueira, da capela dedicada à Nossa Senhora do Desterro, local para onde os seus restos mortais viriam a ser transladados, 10 anos após a sua morte, e em cuja sepultura constava o seguinte epitáfio: Aqui jaz o corpo de Aires Barbosa mestre grego. Era de 1540.
No concelho de Aveiro, em homenagem a este ilustre temos a escola EB, 2, 3 de Esgueira; o Bairro, a Rua e a Residência de Estudantes, Aires Barbosa.
Fontes:
Calendário Histórico de Aveiro, de António Christo e João Gonçalves Gaspar, C.M.A, 1986;
Aveirenses Notáveis, de Rangel de Quadros, C.M.A., 2000. -
Alberto Sousa
1880 - 1961
Notável ilustrador, desenhador e aguarelista que nasceu em Lisboa, em 1880 e morreu na mesma cidade em 1961. Este ilustre foi aluno da Escola de Belas Artes de Lisboa e das Escolas Industriais do Príncipe Real, Rodrigues Sampaio e Machado de Castro, bem como do Grémio Artístico e da Sociedade Nacional de Belas Artes. Em 1897 ingressou no atelier de desenho industrial da Companhia Nacional Editora dirigido por Roque Gameiro, aí permanecendo até 1903, data em que começou a colaborar com a Ilustração Portuguesa, a revista semanal, do jornal diário, de Lisboa, O Século, a convite do seu director, Silva Graça.
De seguida passou a ilustrar jornais como, o Mundo, Novidades, A Capital, República, entre outros. Colaborou também para publicações estrangeiras, tais como, o L'Illustration e o Illustrated London News. Como aguarelista expôs pela primeira vez em 1901, no Grémio Artístico. Em 1913 realizou a sua primeira exposição individual, na redação de A Capital, passando a expor regularmente a partir dos anos 20. Em 1914 foi nomeado conservador artístico na Inspecção das Bibliotecas e Arquivos Nacionais. Em 1931 participou na Exposição Colonial de Paris com um conjunto de aguarelas representativas dos monumentos portugueses em Marrocos.
Dedicou-se também à ilustração de livros, tendo organizado muitas das obras da Enciclopédia pela Imagem. A este ilustre se deveu também o registo etnográfico e perpétuo dos trajes tradicionais aveirenses, através das suas pinceladas, assim como dos usos e costumes das nossas comunidades rurais e urbanas, o que contribuiu para a preservação dos nossos valores e da nossa identidade cultural regional.
Fontes: Enciclopédia Luso Brasileira de Cultura, Enciclopédia Verbo
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Alberto Souto
1888 - 1961
Advogado, politico, investigador de arte e de história, orador, e jornalista, natural de Bonsucesso foi uma figura marcante do concelho de Aveiro na primeira metade do século XX.
"(...) aluno do Seminário, seriam incentivados por mestres como D. João de Lima Vidal e Eugénio de Castro, sem dúvida fator decisivo na sua propensão poética, na oratória e no amor à Natureza, tantas vezes demonstrados ao longo de uma vida de inteira dedicação à terra e gentes desta Região.
Tendo abandonado a carreira eclesiástica, licenciar-se-ia em Direito, bastante mais tarde, depois de algumas interrupções a que a vida política o forçou.Entre 1911 e 1915, foi deputado às Constituintes pelo Círculo de Aveiro, lutando pela autonomia do Liceu, pela melhoria da rede de estradas de todo o Distrito, que ele tantas vezes palmilhou em pesquisas de carácter científico, pela concretização e ampliação da rede telefónica... batendo-se, ainda, apaixonadamente, pelos mais variados problemas de índole sócio-económica do seu círculo eleitoral.(...)"Amaro Neves -
Antónia Rodrigues
1580 - 1620
Mulher altiva e irreverente, de temperamento aventureiro e intrépido, destra no manejo de armas, admirada por El-rei D. Filipe II, foi considerada heroína local, nacional e internacional.
A ilustre nasceu em Aveiro, em data imprecisa, mas os factos da sua vida indicam, que provavelmente, terá sido no dia 31 de março de 1580. Quanto à data e ao local da sua morte nada se sabe em concreto, crê-se que terá sido em Madrid, por volta de 1620, onde à época estava instalada a Corte.
Era filha de Simão Rodrigues Mareares e de Leonor Dias, que viviam no bairro piscatório, da freguesia de Nossa Senhora da Apresentação. Seu pai dedicava-se à vida marítima, inclusive, à pesca do bacalhau, na Terra Nova e a mãe era doméstica. A família era extensa e de parcos recursos, o que levou o pai, a abdicar da filha e a enviá-la para Lisboa, para a casa da irmã, tinha ela doze anos.
Antónia Rodrigues era uma mulher que adorava contemplar o Oceano e conversar com grumetes. Na Praça da Ribeira, em Lisboa, junto dos grumetes, manifestava sempre a mágoa de não ser homem para poder partir para a aventura, em busca de novos mundos. Um dia, com apenas quinze anos, Antónia, conseguiu realizar o seu sonho, partiu, na caravela intitulada Nossa Senhora do Socorro, para Mazagão, zona fortificada e ocupada militarmente, desde 1502, pelos portugueses, após se ter apresentado junto do capitão da caravela, como se fosse do sexo masculino e o ter demovido.
Em Mazagão apresentou-se como António Rodrigues, ingressou na carreira militar, como soldado de infantaria e chegou a ser nomeado oficial de cavalaria. Esta última patente permitiu-lhe travar conhecimentos com famílias fidalgas e despertar paixões, de entre elas, salienta-se a de D. Beatriz de Menezes, filha de D. Diogo de Mendonça, fidalgo, que vivia em Mazagão. A não correspondência amorosa e o pedido de explicações por parte do governador militar, originou a revelação da sua verdadeira identidade, e por consequência, e com a anuência do povo, Antónia Rodrigues, foi nomeada cavaleira aveirense, como forma de reconhecimento, das suas ações, na luta contra os mauritanos.
Antónia Rodrigues regressou a Portugal, com trinta e cinco anos, na companhia do marido e do filho, ficando pouco tempo depois viúva. Em 1619, o filho foi nomeado pelo monarca, moço da Real Câmara, não se sabe se este deixou qualquer descendência.
O nome desta ilustre consta no Theatro Heroíno, de Frei João de S. Pedro, onde se encontra também, entre outros, o da célebre padeira de Aljubarrota.
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António Campos Graça
1903 - 1991
Nasceu em Aveiro, na antiga Rua da Sé, atual Rua do Capitão Sousa Pizarro, no ano de 1903 e faleceu na mesma cidade, a 11 de fevereiro de 1991.
Aluno da escola masculina, da freguesia da Glória, bem como da escola Fernando Caldeira, onde frequentou as aulas de desenho regidas por Francisco da Silva Rocha, este insigne concluiu o curso, com boa média.
Sapateiro, músico da Banda Amizade e da Banda de José Estêvão, colecionador de imagens fotográficas e participante ativo nas mais diversas manifestações culturais aveirenses, não só para ajuizar, mas também para aplaudir, António Graça, foi sobretudo um fotógrafo citadino, da história de Aveiro.
Em 1940, este ilustre fez parte da Comissão Executiva do Arraial de S. José, onde participou como principal elemento organizador da comemoração do 44º. Aniversário da Sociedade Recreio Artístico, bem como, nos anos de 1982 e 1984 da referida festa de aniversário da fundação desta Sociedade.
Foi também vogal da Sociedade, em vários mandatos, assim como vice-presidente da mesma agremiação nos anos de 1969-1970.
A este insigne se deve também a proposta de execução de uma medalha de bronze, comemorativa do centenário do nascimento do ilustre aveirense, D. João Evangelista de Lima Vidal, assim como a mostra fotográfica, que se realizou, em 1984, no Salão Cultural do Município, intitulada Aveiro Antigo e sua Evolução.
A valiosa colecção de fotografias, alusiva à história da cidade, de António Graça, faz presentemente parte do espólio fotográfico da Imagoteca Municipal, acervo, com que presenteou a edilidade, nas vésperas do encerramento da exposição anteriormente referida.
Fonte: Aveiro Antigo, ed. C.M.A., 2001. -
António Gomes da Rocha Madahil
1893 - 1969
Nasceu em Ílhavo a 10 de dezembro de 1893 e morreu em Lisboa a 27 de junho de 1969. Do seu percurso académico faz parte o Liceu Nacional de Aveiro, local onde também veio a lecionar; o Liceu José Falcão, a Faculdade de Direito, e a Faculdade de Letras de Coimbra, onde nesta última, cursou Filologia Românica.
Em 1920, Rocha Madahíl foi nomeado terceiro oficial da secretaria do Liceu José Falcão, tornando-se pouco tempo depois responsável pela organização da biblioteca da escola. Em 1927 foi nomeado Primeiro Conservador da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra. Em 1930 foi-lhe atribuída a responsabilidade na condução dos trabalhos práticos de investigação histórica na Faculdade de Letras.
Em 1932 é nomeado Primeiro Conservador do Arquivo e do Museu de Arte da Universidade de Coimbra, local onde se responsabilizou e organizou toda a documentação alusiva à região de Aveiro. Em 1933 publicou a obra Etnografia e História – Bases para a Organização do Museu Municipal de Ílhavo, obra que serviu de alicerce à constituição e organização do Museu de Ílhavo. De 1934 a 1969, Rocha Madahíl ocupou o cargo de diretor desse Museu. Ainda durante a década de trinta exerceu funções de conservador-ajudante no Museu Machado de Castro.
Em 1935, Rocha Madahíl, juntamente com os amigos José Pereira Tavares e Francisco Ferreira Neves, fundou a revista Arquivo do Distrito de Aveiro legado que preserva uma boa parte da memória cultural da região.
Em 1953 foi nomeado Diretor da Biblioteca e Arquivo do Distrito de Braga. Arquivista de carreira, Rocha Madahíl, a partir dos anos cinquenta, passou no entanto, a dedicar-se mais à investigação histórica. A vasta obra de Rocha Madahil abrangeu domínios como a história, a etnografia, a arqueologia, a iconografia e a heráldica, a título de exemplo, temos o Volume I e II da “Colectânea de Documentos Históricos”, editados pela Câmara Municipal de Aveiro, em 1959 – “O Milenário de Aveiro”.
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Arménio Eusébio Pereira da Costa
1929 - 1998
Arménio Eusébio Pereira da Costa nasceu a 7 de Junho de 1929, no lugar do Cabeço, em Sarrazola, Cacia. Lavrador de profissão, chegou a conciliar os estudos com o trabalho na agricultura, único meio de subsistência da família. Na sua juventude costumava frequentar os tradicionais serões da freguesia e inclusive promovê-los na sua casa.
Em fevereiro de 1978 fundou uma contra dança que esteve na base da fundação do Rancho Folclórico do Rio Novo do Príncipe, que teve a sua estreia a 24 de agosto desse ano.
Depois da fundação do Rancho, passou a dedicar grande parte do seu tempo ao folclore, manifestando através das danças e cantares, os usos e costumes da sua freguesia contribuindo para a sua preservação.
A 2 de fevereiro de 1998, este aveirense faleceu deixando-nos um exemplo de coragem e persistência, e uma forma desinteressada e humilde de estar e em prol da cultura.
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Artur Prat
1861 - 1918
Pintor e escultor distinto que nasceu no Brasil, em 1861 e faleceu em Lisboa, em 1918, considerava Aveiro a sua terra natal. Naturalizado português, este ilustre com apenas dez anos, residiu em Aveiro, juntamente com os seus pais e o seu único irmão, José da Fonseca Prat, onde fez o exame da instrução primária.
Em Lisboa prosseguiu os seus estudos, realizou os seus preparatórios, matriculou-se na Escola Politécnica e na Academia das Belas Artes, onde concluiu o curso com distinção. Mais tarde, este ilustre, foi nomeado professor e director da Escola Industrial de Portalegre, onde profissionalmente foi distinguido, e depois transferido a seu pedido para a Escola Industrial Marquês de Pombal, de Lisboa, e daí para a Escola Industrial de Coimbra, onde se manteve até ao ano de 1904.
Artur Prat distinguiu-se também durante este período como pintor, participando inclusivamente em diversas exposições no Grémio Artístico, de Lisboa e em 1900, na Exposição Universal de Paris. No entanto e com o intuito de mais aprender e se aperfeiçoar artisticamente, em 1904 partiu para Paris ao encontro dos grandes mestres, europeus, de Arte, aí fixando residência por oito anos, mas sem se especializar num só género artístico. Este insigne dedicou-se à pintura naturalista, nomeadamente ao retratismo, ao paisagismo e ao animalismo.
Em 1906, este insigne participou em Paris, na Galerie des Artistes Modernes, na primeira exposição portuguesa de pintura, o que lhe valeu da parte do rei D. Carlos, o reconhecimento do seu mérito, sendo-lhe mesmo atribuído pelo monarca, o oficialato da Ordem de Avis. Em dezembro deste mesmo ano participou na exposição do Museu Colonial Português, em Paris, no Palais Royal e em 1907 na primeira exposição portuguesa de pintura em Londres, na Bruton Galleries, na Bond Street.
A partir de 1908, Artur Prat dedicou-se com entusiasmo à escultura, ficando muitos dos seus trabalhos em França. A partir de 1912, instala o seu atelier em Lisboa, na Avenida António Augusto Aguiar, onde executa várias esculturas, entre elas, destacam-se as que representam a Pintura, a Escultura e a Arquitetura, que presentemente sobrepujam o palacete da Ordem dos Engenheiros, em Lisboa e o vaso monumental de granito, representando as quatro estações do ano.
A este ilustre se deve também a notável escultura, datada de 1914, intitulada O Último Alento, que encima um mausoléu fúnebre, sito no Cemitério Central de Aveiro e que na base apresenta a assinatura A.C. Prat, cujo monumento guarda os seus restos mortais, bem como os da sua família. É de salientar também o retrato pintado de Manuel Firmino, executado pelo autor, cuja pintura integra o espólio do Museu da Cidade.
Fonte: Arquivo do Distrito de Aveiro, nº. 68, 1951, págs. 284 a 287.
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Augusto António de Carvalho
1890 - 1974
Augusto António de Carvalho nasceu a 22 de novembro de 1890 e faleceu a 27 de setembro de 1974. Personalidade localmente conhecida por “Augusto Tamanqueiro” e nos meios artísticos por caricaturista “Argus”, este exímio esgueirense começou a vida profissional como fazedor de tamancos, chancas e chinelinhas de verniz, mas foi como artista que se destacou.
“Argus” dedicou-se ao ensino da música e de diversos instrumentos musicais de sopro e cordas como o violão e o banjo; fez da sua casa um “conservatório” e local de ensaios musicais; foi instrumentista da Banda Amizade e de vários Ranchos Folclóricos e ainda colaborador de alguns jornais da região, nomeadamente, do «Ecos de Cacia». No final da sua vida dedicou-se à Junta de Freguesia de Esgueira, onde ocupou o cargo de secretário.
Da obra gráfica do artista destaca-se no branco do reboco mural da sua oficina, caricaturas de personalidades bem conhecidas da época: Bordalo Pinheiro, Marquês de Pombal, Afonso de Albuquerque, Vasco da Gama, Manuel de Arriaga, Afonso Costa, Taborda, Guerra Junqueiro, Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Camões, Bocage, Herculano, Santa Camarão, Gorki, Hitler, Gago Coutinho, Sacadura Cabral, o Maestro Lé, Guerra de Abreu, esgueirenses como: Manuel, José e Filinto Feio, Joaquim Pinho, Américo Ramalho (funcionário dos Armazéns de Aveiro), Manuel da Loura, Mário «Caganeira», muita gente anónima e ele próprio. A obra legada projecta o observador para a ambiência política, económica, social e cultural da época. Quanto à inspiração esta provinha de pormenores, encontrados no aspecto físico dos “visados”.
“Augusto Tamanqueiro” deixou também várias dezenas de caricaturas em papel, em obra inédita, muitas delas vieram a ser publicadas, em 1989, na obra “Traços Caricaturais por Argus”, edição da Junta de Freguesia de Esgueira.
Fonte: Testemunho de Maria Emília de Vasconcelos Carvalho Caetano, filha do evocado.
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Brites Leitoa
1427 - 1480
ou Beatriz Leitão
[1], nasceu em 1427, em lugar desconhecido e faleceu em 1480, em Abrantes. Descendente de nobre geração, esta ilustre cedo ficou órfã, sob a proteção e ao serviço do Regente do Reino, o Infante D. Pedro e de sua mulher, a Infanta Dona Isabel, até ao seu casamento com o fidalgo e nobre cavaleiro, criado do Senhor Infante D. Pedro, D. Diogo de Ataíde.
Deste matrimónio a ilustre senhora teve quatro filhos, dois do sexo masculino e dois do sexo feminino, sendo que os do sexo masculino sucumbiram à pestilência da época, sobrevivendo somente D. Catarina e D. Maria de Ataíde que viriam mais tarde, após a morte de D. Diogo de Ataíde, juntamente com a mãe, a abraçar a vida religiosa. Esta insigne fora responsável, após a morte de seu marido, pela construção de um verdadeiro mosteirinho de clausura, constituído por casas e uma pousada, de planta com características monásticas, sito a sul do esteiro que atravessa a vila, dentro das muralhas, próximo da igreja da Nossa Senhora da Misericórdia.
D. Brites Leitoa e as suas duas filhas entraram em recolhimento, nestas instalações, a 24 de novembro de 1453, construções primitivas que estão na base da fundação do Convento de Jesus. A 16 de maio de 1461, Pio II, através da bula Pia Deo et Ecclesiae desideria, concedeu licença de fundação do mosteiro, a D. Brites Leitoa e a D. Mícia Pereira. Em 1462, D. Afonso V despachou favoravelmente a petição para a concretização da nova igreja e ampliação do eremitério primitivo. Em Dezembro de 1464, D. Brites Leitoa e as filhas tomaram o hábito e passaram a viver em clausura. Em 1482 e após a morte desta ilustre, em Abrantes, os restos mortais de D. Brites Leitoa foram transladados para a Vila de Aveiro, que os recebeu entre homenagens, lágrimas e orações. A prioresa fora sepultada na Sala do Capítulo Velho do Mosteiro de Jesus, presentemente, os seus restos mortais, encontram-se na Sala do Capítulo Novo, do mesmo Mosteiro.
D. Brites Leitoa fora representada plasticamente, em miniatura, por Vicente Gil, da Oficina de Coimbra, no Tríptico do Salvador, pintura datada, do séc. XV – XVI, bem como em obra, datada, do século XVIII, representativa da Entrada da Princesa Santa Joana no Mosteiro de Jesus, de autor desconhecido, que revela o acolhimento oferecido pela prioresa, pela sua filha D. Maria de Ataíde e pelas freiras à Princesa Santa Joana e à Corte, na portaria do Mosteiro de Jesus de Aveiro.[2]
[1] À excepção de Miguel Leitão de Andrade, que a considera, descendente do Mestre da Ordem de Cristo, D. Estêvão Gonçalves Leitão (vd. Miscelânea, obra datada de 1867, nas páginas 83, 436 a 441).
[2] Estas duas obras plásticas pertenceram ao Mosteiro de Jesus e presentemente fazem parte do acervo do Museu de Aveiro.
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Cândido Teles [António Cândido Patoilo Teles]
1921 - 1999
Oficial distinto e artista de incontestável talento, este ilustre aveirense deixou-se plasmar pela natureza, foi embaixador da região e das nossas gentes, cultor do ar-livrismo e do neonaturalismo e responsável pela simbiose entre impressionismo e pós-impressionismo. De paleta cromática de pendor impressionista foi um exímio colorista e intérprete de ambientes, para quem a cor e a luz eram elementos vitais. Artista plástico de pintura ímpar, de renome nacional e internacional, Cândido Teles foi antes de mais um experimentador consciente e constante, de percurso rigoroso e de forte imaginação plástica que interpretou de forma obsessiva, entre várias realidades, as paisagens, as transparências e as ambiências da Ria e da região, de Aveiro. Auto-intitulado pintor de barcos e da Ria de Aveiro este ilustre representou também vivências e o pitoresco da realidade alentejana e açoriana, bem como do ultramar português, nomeadamente dos ambientes de Angola, Guiné e Moçambique.
Insigne multifacetado fez uso de múltiplas linguagens plásticas: desenho, cerâmica, gravura, serigrafia, escultura, monotipia, pintura, entre outras, assim como de técnicas, que se descobrem na cidade, nomeadamente, nos painéis murais policromáticos e nos diversos óleos, que nos remetem também para as suas memórias e vivências e para a sua poética pessoal e intimista. Ao nível da temática, este artista plástico regista apontamentos como, as silhuetas das embarcações tradicionais da Ria: mercantel, bateiras, murtoseiras e erveiras, com ou sem velas trapeziformes, com varas ou sirga, mastros e ancinhos; os corpos robustos de moços e arrais; os barcos de xávega; diversos trechos da ria; o trabalho árduo do marnoto, nas marinhas de sal; os campos e as povoações ribeirinhas; os palheiros de sal; o pormenor das nossas ruas ou a silhueta dos nossos monumentos.
Este insigne obteve, na década de 30, do século XX, no âmbito do 1º. Salão da Associação Escolar do Liceu Nacional José Estêvão, duas menções honrosas com aguarelas e na década de 40, uma menção honrosa da Sociedade de Geografia de Lisboa com um trabalho sobre Moçambique. Na década de 50, em Luanda obteve o 3º. Prémio, com um quadro sobre Aveiro. Na década de 60, no contexto da II Bienal Internacional Del Deporte em Las Bellas Artes, em Madrid., obteve o 3º. Prémio na secção de gravura com Monotipia. Em 1993 editou a litografia Faina do Sal e fora agraciado com a medalha de Mérito Cultural Internacional pelo Lyon´s Club Santa Joana Princesa Aveiro.
A este ilustre se deve ainda dois quadros pintados propositadamente para a Sala de Oficiais, do Regimento de Infantaria nº. 10, intitulados, D. Nuno Álvares Pereira e Mousinho de Albuquerque; o tríptico sobre o sal executado para a Cooperativa de Aveiro e os dois painéis murais na Rua dos Galitos.
Cândido Teles foi um dos fundadores, na década de 70, do Movimento Aveiro-Arte e foi condecorado, em 1985, pelo Chefe do Estado com o grau de Oficial da Ordem de Santiago de Espada, por mérito artístico.
Do espólio da autarquia fazem parte obras plásticas, do autor, como, Faina do Sal, Faina do Moliço, Canais de Aveiro e Homenagem ao Esforço Humano.
Fonte: C. Teles, ed. C.M.A., 1996.
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Coutinho de Lima
1903 - 1978
Nasceu em 1903 e faleceu em 1978. Engenheiro civil de formação foi inspector Superior de Obras Públicas, diretor do Porto de Aveiro e responsável pela fixação do Porto de Pesca Costeira de Aveiro, na zona da antiga lota. A este ilustre se devem vários estudos sobre os movimentos hidrográficos e para a consolidação da barra; bem como a proposta de construção de um molhe norte com 710 metros, no prolongamento do Molhe de Von Hafe, com um troço orientado a WSW, e de um molhe sul, localizado a sul do farol. João Coutinho de Lima deu contribuição para a construção de um porto que visava o desenvolvimento da pesca longínqua; de um porto comercial para 5,5 milhões de toneladas anuais; para o estabelecimento de uma zona de docas seca, construção e reparação naval e para a fixação de uma zona onde as indústrias portuárias se pudessem instalar e desenvolver.
De entre os trabalhos impressos e datilografados, destacam-se as obras:- Pôrto e Ria de Aveiro. Notícia sobre o seu valor económico;
- Notas sobre a Evolução Lagunar por Efeito das Obras Construídas no Canal da Barra de Aveiro
- Evolução e Possibilidades do Porto de Aveiro;
- Obras do Porto de Aveiro. Esclarecimento, parte I a VII;
- Exposição Sobre um Esquema Geral e Exposição Sobre um Porto Interior
- e ainda vários projectos que elaborou e apresentou como, o Ante-projecto de Prolongamento dos Molhes para Melhoramento da Barra de Aveiro, de 1933; a segunda fase o mesmo Ante-projeto, datada de 1947 – 1958, a Ampliação do Esquema Geral do Porto Interior, de 1956 e o Plano de Arranjo e Expansão do Porto Bacalhoeiro de Aveiro, de 1947.
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Eça de Queirós [José Maria de Eça de Queirós]
1845 - 1900
Notável escritor luso, do século XIX, de crítica social, de temática realista e doutrinação naturalista, nasceu em 1845 e faleceu em 1900. Do percurso de vida deste ilustre faz parte a sua passagem por Aveiro, onde viveu até ao falecimento da avó paterna, em 1855, na casa de Verdemilho, em Aradas. Académica e profissionalmente este vulto da cultura portuguesesa foi aluno da Universidade de Coimbra, da licenciatura em Direito; participou ativamente nas Conferências do Casino; foi administrador do Concelho de Leiria, advogado, jornalista, administrador das propriedades em Thormes, cônsul de Portugal em Havana, Newcastle, Bristol e Paris. Fundador da Revista de Portugal e autor de reputados romances como os Maias ou O Crime do Padre Amaro, sendo este último trabalho considerado o melhor romance realista português do século XIX.
A este notável se devem também obras traduzidas em mais de vinte línguas como: O Mistério da Estrada de Sintra; A Relíquia; A Casa de Ramires; A Correspondência de Fradique Mendes; e A Capital. Do trajeto literário queirosiano fazem ainda parte os primeiros trabalhos literários publicados na revista Gazeta de Portugal e postumamente em Prosas Bárbaras, onde reflecte o Eça romântico de traços satânicos e panteístas, mas também o conto e a crónica que permitiram, inclusivamente, aos leitores portugueses e brasileiros, um contacto estreito com a vida cultural, política e social da Europa e de Portugal em concreto. Na obra queirosiana constam ainda temáticas como, o romantismo, a família, a educação, a problemática do amor, do adultério e do incesto, a civilização e as suas contradições, o anticlericalismo, o estatuto da literatura e da arte, a evolução histórica de Portugal e a dialéctica cidade-campo.
Notável interventor cívico, Eça de Queirós passou também pelo Cenáculo onde reflectiu e questionou matérias como Portugal e a sua evolução histórica, os costumes portugueses e o liberalismo.
Em Aveiro, este ilustre, dispõe de duas artérias com o seu nome, uma na freguesia de Santa Joana e a outra na freguesia da Glória.
No Círculo Eça de Queiroz, alusivo a este ilustre, existem ainda várias fotografias originais do escritor, bustos, medalhas e uma rara edição do romance os Maias. Na Fundação com o mesmo nome, existe um vasto espólio arquivístico que inclui fotografias de família, amigos, descendentes, inaugurações e homenagens, bem como documentos pessoais e literários que permitem conhecer melhor este grande vulto da cultura portuguesa.
Fonte: Mário Sacramento, Eça de Queirós – uma estética da ironia, Coimbra, 1945; J. Cortesão, Eça de Queirós e a questão social, Lisboa, 1970; Estudos Queirosianos. Ensaios sobre Eça de Queirós e a sua Geração, Lisboa, 1990; Vida e Obra de Eça de Queirós, Amadora, 1980; Carlos Reis, Estatuto e perspectivas do narrador na ficção de Eça de Queirós, Coimbra, 1984; As ideias de Eça de Queirós, Lisboa, 2000.
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Eduardo Cerqueira
1909 - 1983
Nasceu na freguesia da Vera-Cruz, em 1909 e faleceu em Aveiro, em 1983. Foi aluno do Liceu Vasco da Gama (posteriormente José Estêvão), em Aveiro, bem como das Faculdades de Ciências e de Farmácia, da cidade do Porto. Aveirista e benemérito foi director do Sport Club Beirar-Mar e da Associação de Futebol de Aveiro; membro das Comissões Municipais de Cultura e Toponímia; jornalista e presidente da Junta Autónoma do Porto de Aveiro e da respectiva Comissão Administrativa.
Este ilustre aveirense dedicou grande parte da sua vida ao estudo e à divulgação da história local, escreveu inúmeros e valiosíssimos artigos, publicados em jornais e revistas, sobre as instituições, os monumentos, os vultos e as tradições locais. Foi também correspondente de jornais como, O Século e O Primeiro de Janeiro, delegado do Diário de Notícias, colaborador da ADERAV, colaborador das revistas Arquivo do Distrito de Aveiro e Aveiro e o seu Distrito, do jornal O Litoral e ainda redactor de semanários regionais, como o Correio do Vouga e o Jornal de Aveiro.
Este insigne foi agraciado com a Medalha de Prata da Cidade, pela Câmara Municipal de Aveiro e dispõe de uma rua com o seu nome, no Cais do Paraíso.
Fonte: Boletim Nº 10, ADERAV - Associação de Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro, 1983. Armando Teixeira Carneiro
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Egas Moniz [António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz]
1874 - 1955
Escritor português, político, investigador, orador ímpar, dedicado e culto conhecedor das artes plásticas, invulgar coleccionador, catedrático, presidente do Centro de Estudos Egas Moniz no Hospital Júlio de Matos, médico neurologista e neurocirurgião cientista, responsável pela descoberta da angiografia cerebral, nasceu em 1874 em Avanca e faleceu em Lisboa em 1955. Considerado descendente em linha directa do aio de Egas Moniz, este insigne dedicou-se à clínica neurológica, ao ensino e à investigação científica e foi responsável pela abertura do caminho para a cirurgia cerebral. Ilustre de notoriedade invulgar, alcançada ao nível da Ciência e da Medicina portuguesa do século XX, em 1949 foi-lhe atribuído o primeiro Prémio Nobel português da Ciência, o Prémio Nobel da Medicina.
A atribuição do Prémio Nobel deve-se não só ao valor da leucotomia como método terapêutico mas também e principalmente aos novos caminhos que abria ao estudo da fisiologia do sistema nervoso central. Este insigne completou a instrução primária na Escola do Padre José Ramos, foi aluno do Colégio de S. Fiel, na Beira Baixa e da Universidade de Coimbra, onde se formou em Medicina, local onde foi nomeado professor em 1902, iniciando a carreira como lente substituto, leccionando anatomia e fisiologia. Em 1911 foi transferido para a recém - criada Universidade de Lisboa para reger a cadeira de Neurologia, recentemente criada pela jovem República e da qual foi o primeiro professor. Frequentou as clínicas neurológicas de Paris e Bordéus, onde há época leccionavam e clinicavam os mais afamados neurologistas. Em 1903 foi eleito deputado parlamentar e em 1917 funda o partido Republicano Centrista, é enviado para Madrid como embaixador de Portugal e ainda é nomeado Ministro dos Negócios Estrangeiros.
Em 1918 e 1919 presidiu à Delegação Portuguesa à Conferência da Paz, em Paris, onde contactou com todas as grandes figuras da I Guerra Mundial. Em 1927 realizou a primeira angiografia cerebral no homem, que permitiu obter em películas radiográficas a imagem dos vasos sanguíneos intracranianos, criar a circulação vascular no encéfalo, bem como diagnosticar tumores cerebrais e respectiva natureza, facilitando a visualização e a localização da neoplasia e nos traumatismos cranianos salvar vidas, porque indica com segurança a presença dos hematomas ou de outras anomalias vasculares, o que constituiu à época, o maior progresso da cirurgia cerebral. Em 1935 este ilustre concebe uma nova forma de intervenção cirúrgica sobre o cérebro, com a missão de interromper as conexões do lobo frontal, com outras regiões encefálicas: a leucotomia pré-frontal. A sua arrojada e valorosa iniciativa científica, de grande valor terapêutico foi rapidamente admitida e colocada em prática nas principais clínicas neurocirúrgicas e psiquiátricas do mundo. A leucotomia cerebral revelava factos científicos fundamentais para o esclarecimento da fisiologia dos lobos frontais do cérebro humano (Fulton, 1951), permitindo desenvolver outros métodos cirúrgicos nomeadamente a cirurgia estereotáxica, no campo da psiquiatria e da neurologia, metodologia decisiva para a introdução das drogas psicotrópicas e a visualização dos vasos sanguíneos celebrais, através da aplicação de radiações. (N. DOTT, 1971).
A este vulto se deve também a publicação da sua extensa autobiografia, Confidências de Um Investigador Científico, em 1949 e obras como A Nossa Casa, Lisboa, 1950; 400 separatas e diversas memórias, discursos e trabalhos científicos publicados em muitas revistas nacionais e estrangeiras.
Fonte: J. Caeiro da Mota, Egas Moniz, Homem de Estado, Lisboa, 1949; Eduardo Prado Coelho, A Vida Científica de Egas Moniz, Porto, 1950; F. Ruben Perino, Egas Moniz, 1874-1955, Buenos Aires, 1956.
22-12-2009
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Fausto Ferreira
1922 - 2002
Este ilustre nasceu em 1922, em Estarreja e faleceu a 5 de maio de 2002, em Aveiro.
Viveu no Brasil de 1924 a 1931.
Fez a instrução primária, que concluiu em 1934, na escola do Museu de Aveiro e ainda nesse mesmo ano entrou para o Liceu José Estêvão, onde foi aluno do Dr. Ferreira Neves. Frequentou também o colégio de Estarreja. E estudou piano. Foi furriel miliciano durante três anos, durante a 2ª. Grande Guerra Mundial. Após o fim da guerra trabalhou no Centro de Abono de Família, sediado na antiga casa de Magalhães Lima e como guarda-livros sucessivamente na firma aveirense Silva Gomes & Cª., Lda; na Artibus; no João Nunes da Rocha; na empresa fabril da Figueira; nas firmas aveirenses Scalabis, Pedrosa & Tavares e Dankal.
Aveirense por adoção, investigador de verbo truculento, grande interventor cívico pela defesa da cidade, colaborador de diversos eventos e de todos aqueles que se interessavam pelos seus saberes e pelos seus arquivos. Foi elemento integrante de várias Comissões, nomeadamente da Comissão de Toponímia, colaborador do Pasquim – Boletim informativo da Associação Cultural Confraria Gastronómica de S. Gonçalo de Aveiro, colecionador incansável de livros (de Oliveira Martins, Ferreira de Castro e Camilo Castelo Branco), jornais (Litoral, Lutador, Companha, Jornal de Aveiro, Regionalista, entre outros), fotografias, postais alusivos à cidade e às suas personalidades, gravuras e artigos de imprensa alusivos a Aveiro, possuidor de uma das maiores e mais completas bibliotecas sobre Aveiro, referentes aos últimos 70 anos e incontornável figura co-autora do livro “Ruas Que São Gente”, que um dia quis armazenar o cheiro da nossa Ria e vendê-lo em frascos, aos ausentes que sofriam por saudade da nossa terra.
Fausto Ferreira dá o nome a uma das artérias da cidade, na freguesia da Vera-Cruz.
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Fernão de Oliveira
1507 - 1581
Nasceu em Aveiro, no ano de 1507 e faleceu em lugar e data incerta. Erudito aveirógrafo, clérigo, professor, piloto e diplomata de existência conturbada, espírito tolerante, irrequieto, sagaz, aventureiro, estratega e progressista, do período do Renascimento, cujas atitudes lhe valeu muitas vezes a perseguição da Inquisição e o cárcere. Foi aluno do convento de S. Domingos em Aveiro, e em Évora. Aos vinte e cinco anos abandona o convento dominicano e refugia-se em Castela, onde vive alguns anos e se dedica ao estudo da língua espanhola.
Em 1536, regressa a Lisboa e publica a Grammatica da Língoagem Portuguesa. Foi mestre, dos filhos de João de Barros, D. Fernando de Almeida e dos do barão de Alvito. No ano de 1541, segundo, Lopes de Mendonça, envolve-se nas “complicadas negociações que a Corte portuguesa agitava na Cúria Romana”. Em 1543 regressa de novo a Portugal. Em 1545, alista-se como piloto de uma das galés francesas, ancoradas no Tejo e que tinha por missão atacar a Inglaterra. Após a derrota da armada francesa fica preso em Inglaterra, o que lhe veio a proporcionar, uma relação amistosa com o monarca, Henrique VIII.
Em 1547, regressa à pátria, mas rapidamente cai nas malhas da Inquisição devido à publicação de ideias heterodoxas acerca da doutrina católica. A provisão, datada de 22 de agosto de 1551, do cardeal D. Henrique, concede-lhe liberdade condicional, não lhe sendo no entanto permitido, ausentar-se do país, sem licença.
Em agosto de 1552, parte de novo para a aventura, embarca como capelão numa caravela, para Marrocos, numa expedição destinada a restituir ao destronado rei de Velez, os estados, que o Xerife Muley Hamed lhe havia usurpado. A expedição fracassa e os navios foram aprisionados, pelos argelinos e Fernando Oliveira foi encarregado do resgate dos portugueses.
Entre 1552 e 1554, crê-se que Fernão Oliveira terá escrito e concluído a obra Arte da Guerra do Mar. Em 1555, exerce o emprego de revisor ou corrector da Imprensa da Universidade e, é-lhe atribuído o título honorífico de licenciado. A 26 de outubro desse mesmo ano, entra de novo, nos cárceres da Inquisição de Lisboa. Para além das obras já mencionadas, compôs também as obras: a Arte da Navegação (Ars Náutica); o Livro da Fabrica das Naos; a Grammatica da Lingoagem Portuguesa; e ainda algumas obras inéditas, como: Uma Hestorea de Portugal, a Primeyra parte do Livro da antiguidade, nobresa, liberdade e imunidade do Reyno de Portugal; uma tradução da Re Rústica de Columela e a cópia de parte da Arte de Gramática de Língua Castelhana.
Os conteúdos das suas obras são de grande relevância do ponto de vista da construção naval e da estratégia, bem como, da linguística.
Fonte: Aveirenses Notáveis, Rangel de Quadros, ed. C. M. A., 2000. -
Ferreira de Castro
1898 - 1974
Notável escritor do distrito de Aveiro, jornalista e acérrimo defensor da liberdade, nasceu em 1898 e faleceu em 1974.
Grande vulto da literatura portuguesa, este insigne cuja obra fora traduzida em várias línguas, a quem António José Saraiva, na sua Breve História da Literatura Portuguesa, apelida de primeiro escritor sem gravata, foi fundador do jornal A Cruzada. Colabora no Jornal-dos-Novos onde divulga as suas primeiras produções lírico-românticas, e com a revista ABC onde publica novelas, como Carne Faminta, O Êxito Fácil e o Sangue Negro, A boca de Esfinge, O Voo nas Trevas, A Morte Redimida, Sendas de Lirismo e de Amor, O Drama da Sombra, Emigrantes, Eternidade, Terra Fria, Tempestade, Pequenos Mundos e Velhas Civilizações e A Volta ao Mundo.
Cria as obras monumentais A Selva e Maravilhas Artísticas do Mundo, edita os romances Criminoso por Ambição e Rusgas Sociais, funda o periódico Portugal, a revista A Hora, o livro Mas… e ainda produz o drama O Mais Forte.
A obra de Ferreira de Castro desvela o pessimismo radical, o niilismo de raiz e a melancolia do autor quando confrontado com o absurdo da existência. A obra é por muitos considerada, também, como o encerramento de um ciclo iniciado com a Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto.
O Arquivo do Distrito de Aveiro, datado de 1970, apresenta uma extensa reportagem sobre Ferreira de Castro e a sua obra, assim como o trabalho de João da Silva Correia, datado de 1972, intitulado Antologia Aveirense / Ferreira de Castro - Das suas Recordações de Menino e Moço.
No ano do centenário do nascimento deste ilustre, o Grupo Poético de Aveiro dedicou-lhe uma série de conferências e a Câmara Municipal de Aveiro disponibilizou ao público a exposição bibliográfica e documental, revelando aos aveirenses o homem e a obra.
Em 1970, em França, este ilustre que privava com vultos da sua época como Mário Sacramento, João de Barros, Arlindo Vicente, Roberto Nobre e Raimundo Alves, recebe o Grande Prémio Internacional Águia de Ouro, no Festival do Livro de Nice e, em 1971, o Prémio da Latinidade, pela Academia do Mundo Latino.
Este insigne, que afirmou “Eu estou contente de haver nascido no distrito de Aveiro, porque o distrito de Aveiro ama a Liberdade”, dispõe de Rua nesta cidade com o seu nome.
Fonte: Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Vol. XI
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Francisco Ferreira Neves
1892 - 1984
Francisco Ferreira Neves nasceu em Aveiro, em 1892, e faleceu na mesma cidade em 1984. Frequentou a instrução primária e o curso liceal no Liceu Nacional de Aveiro, onde foi premiado e foi aluno da Universidade de Coimbra onde se licenciou, com distinção, em Ciências Matemáticas.
Ilustre aveirense exerceu magistério, primeiro, no Liceu de Viana do Castelo, depois, e até à sua aposentação em 1962, no Liceu de Aveiro. Em 1935, juntamente com Pereira Tavares e António Rocha Madahil, funda a Revista Arquivo do Distrito de Aveiro da qual foi seu Diretor. Obra publicada em 42 volumes, entre 1935 e 1976, que legou aos aveirenses artigos valiosos sobre temáticas locais diversificadas como a história, a arqueologia, a geologia, a etnografia, a geografia, a economia, a arte, a genealogia e a literatura.
Este conceituado aveirógrafo que se destacou essencialmente no domínio da investigação e da divulgação da história aveirense, publicou também trabalhos de natureza histórica em diversos jornais e revistas e editou, ainda, obras didáticas no domínio da matemática, como “O Ensino de Matemática nos Liceus, Aritmética e Álgebra” e “Álgebra e Trigonometria”.
A Francisco Ferreira Neves se deve ainda a defesa e divulgação de documentos notáveis como o Foral da Vila de Esgueira, as Atas de Câmara de 1580 e o Processo de Beatificação da Princesa Santa Joana.
A Câmara Municipal de Aveiro, em 1959, em sinal de reconhecimento, concedeu à Revista do Arquivo do Distrito de Aveiro e aos seus fundadores, a Medalha de Prata da Cidade, e a Francisco Ferreira Neves a Comenda de Instrução Pública pelos seus relevantes trabalhos de investigação e divulgação histórica.
O nome deste ilustre consta da toponímia local.
Fontes: Arquivo do Distrito de Aveiro (1935-1976); Livro dos Acordos da Câmara de Aveiro de 1580 (1971); Correio do Vouga, de 16 de Janeiro de 1960; Aveiro na História, de João Gonçalves Gaspar (1997)
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Francisco José Rodrigues do Vale Guimarães
1913 - 1986
[1] Proeminente político da segunda metade do século XX. Este ilustre nasceu em Aveiro, a 22 de setembro de 1913 e faleceu a caminho da sua terra natal, a 24 de fevereiro de 1986. Licenciado em Direito, foi Diretor de Serviços e Administrador-Geral dos C.T.T e Governador Civil de Aveiro de 1954 a 1959, o que lhe valeu a Medalha de Ouro da Cidade e de 1968 a 1974, ano em que foi agraciado com a Ordem do Infante D. Henrique, pelos serviços prestados. Este ilustre foi também administrador e presidente do Conselho de Administração dos Estaleiros de S. Jacinto, da Navalria, da Cerâmica Aveirense e presidente vitalício da Fundação Carlos Roeder.
De espírito tolerante e liberal este ilustre era um grande defensor dos interesses regionais. A este distinto se deve uma ação notável de moderação junto do Governo, face à pressão salazarista e marcelista, o que permitiu a realização dos três congressos democráticos em Aveiro. Após o 25 de Abril, manteve-se ainda em cena política, tendo sido convidado para mandatário distrital de Mário Soares aquando da campanha para a Presidência da República.
Por fim também a este insigne se deve a noção de aveirismo, assim como uma vasta obra política, administrativa e de assistencial local.Fonte: Ruas Que São Gente, por Carlos Campos, Fausto Ferreira e Gabriel Amorim Faria, Aveiro, 2000.
[1] Partido único legalmente constituído pelo Estado Novo, intimamente ligado ao Governo, sempre dirigido pelo primeiro-ministro em exercício, cujo primeiro foi António de Oliveira Salazar e o segundo Marcello Caetano e que garantia a manutenção do regime em vigor. Este regime estabeleceu-se em Portugal com a aprovação da Constituição de 1933 – o Estado Novo e manteve-se até 1974. Este partido destaca-se por conseguir eleger sempre a totalidade dos deputados e assegurar a eleição daqueles que escolhia e apoiava para Presidentes da República: Marechal Óscar Carmona, Craveiro Lopes e Américo Thomaz.
Aveirense convicto, figura distinta e destacada da Acção Nacional Popular (ANP) -
Francisco Manuel Homem Cristo
1860 - 1943
Nasceu em Aveiro em 1860 e morreu nesta mesma cidade em 1943.
De carácter impulsivo, de temperamento insubmisso, espírito intervencionista, combativo e rude e grande defensor de ideais democráticos e da instrução popular, iniciou a sua famosa carreira na imprensa com 17 anos, em O Trinta e, ainda jovem alferes, fundou o semanário Povo de Aveiro, de que foi durante mais de meio século, o único redator e do qual veio a ser diretor.
Génio na oratória, este notável aveirense foi panfletário e crítico, de prosa inconfundível, bem como oficial do exército, professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, deputado da nação e jornalista, sendo considerado à época, o maior expoente da vida portuguesa.
Este insigne destacou-se também pela sua ação enquanto presidente da Associação Comercial e Industrial de Aveiro e da Junta Autónoma da Ria e da Barra de Aveiro, onde exerceu uma acção notabilíssima a favor do ressurgimento portuário, económico e comercial da região.
Defensor de valores republicanos e das liberdades fundamentais, este ilustre chegou a pertencer ao Diretório do Partido Republicano ainda durante a monarquia e fora eleito deputado pelo círculo eleitoral de Timor. Aquando da Implantação da República, viu-se forçado ao exílio, havendo suspendido a publicação do seu semanário, que passou a editar, em Paris, sob o título Povo de Aveiro no Exílio. Deflagrada a Primeira Grande Guerra regressou ao país, e voltou a publicar em Aveiro o seu jornal com as mesmas características intrínsecas, mas agora designado por, O de Aveiro.
Da sua vasta obra publicada, destaca-se: Para além da sua imensa obra panfletária e do semanário O Povo de Aveiro, jornal republicano de reputação nacional, Os Acontecimentos de 31 de Janeiro e a Minha Prisão; Pró-Pátria; Banditismo Político; a produção literária nos domínios da educação, da política e da ordem militar; bem como a sua importante colaboração na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, no Guia de Portugal, de Raul Proença e nos jornais Diário de Notícias, Debates e O Século.
A este ilustre se deveu também uma ação no campo da restauração da Diocese de Aveiro, da alfabetização nos quartéis, bem como no melhoramento da Barra de Aveiro.
Fontes: Aveiro e o Seu Distrito, Vol. VIII, 1969, pp. 35-49; Vol. XXX, 1964, pp. 161; Vol. XXVI, 1960, pp. 159; Vol. XVI, 1975, pp. 109-120; Vol. XLII, 1976, pp. 129-138.
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Francisco de Castro Matoso [Francisco de Castro Matoso da Silva Côrte-Real]
1832 - 1905
Conceituado Conselheiro e ilustre aveirense nasceu em 1832, em Oliveirinha, e faleceu em Lisboa no ano de 1905.
Formado em Direito, este insigne seguiu a magistratura judicial, militou no Partido Progressista, foi deputado por Aveiro, presidente da Comissão para a criação do Hospital de Aveiro, presidente do Tribunal da Relação de Lisboa, juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, Ministro das Obras Públicas, Par do Reino e ilustre representante da velha casa de Oliveirinha. É irmão do estadista José Luciano de Castro.
Este aveirense destacou-se na direção dos destinos da política progressista do distrito e na propugnação dos interesses locais e distritais, nomeadamente por melhoramentos materiais do distrito ao nível das obras da barra, da vinda imediata do regimento de cavalaria, pela edificação do quartel de Sá, pela viação distrital e municipal, assim como pela liberalização do uso e posse da terra, por parte dos agricultores.
A este intemerato de nobre carácter se deve ainda o impulso para a construção de um Novo Hospital e para a edificação da ponte de S. João de Loure, sobre o Vouga e ainda a estação do caminho-de-ferro das Quintãs.
A 23 de novembro de 1906, em sessão extraordinária, este ilustre foi homenageado pela Câmara Municipal de Aveiro.
O retrato a óleo alusivo ao Conselheiro Castro Matoso, da autoria do pintor portuense Cândido da Cunha e a talha do notável José Ferreira dos Santos encontra-se exposto na Junta de Freguesia de Oliveirinha.
Castro Matoso também dá o nome a uma das artérias da nossa cidade.
Fontes: Arquivo do Distrito de Aveiro, Vol. XXXIV, 1968, pp-30; Vol. VIII, 1942, pp-302-304; Vol. X, 1944, pp-243-244; Vol. XL, 1974, pp-81-103; Campeão das Províncias, nºs 5535 e 5603, datados respectivamente de 24 de Março de 1906 e 21 de Novembro de 1906.
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Gustavo Fereira Pinto Basto
1842 - 1914
Homem de rara envergadura moral, intelectual e social, de inteligência perspicaz e carácter austero, enérgico, tenaz, generoso, empreendedor e intemerato, aprendeu a governar e a servir. Nasceu no lugar de Silveiro, na freguesia de S. Simão de Oiã, no ano, de 1842 e faleceu em Lisboa, no ano de 1914.
Foi Tenente-Coronel, presidente da Associação Comercial de Aveiro e Presidente de Câmara de Aveiro, de 1902 a 1906 e de 1908 a 1910. A este vulto se deve entre outros melhoramentos:
A rede de esgotos;
A transformação do burgo, numa cidade de praças e avenidas airosas, e de fácil circulação;
A conversão do velho Largo do Terreiro, na Praça Marquês de Pombal;
Avenidas, como a de Castro Matoso e a continuidade de outras, tal como, a avenida Araújo e Silva;
A abertura e alargamento de ruas, como a que actualmente tem o seu nome, como prova de gratidão;
A construção de estradas, como a do canal de S. Roque, artéria que ligava o Bairro da Beira-Mar, à Estação do Caminho -de – Ferro, e a estrada da Pega;
A construção da Escola Central da freguesia da Glória;
A edificação do antigo Asilo-Escola Distrital;
A solicitação ao Rei em 1897, da criação da Junta da Barra e de um Curso Elementar de Comércio;
A construção do Mercado José Estêvão (mercado do peixe);
O calcetamento do Largo da Cadeia, atual Praça da República.
O Abastecimento público de água;
Este ilustre conquistou as insígnias de Cavaleiro da Ordem de são Bento de Aviz, pela sua brilhante carreira militar, interrompida por motivos de doença e recusou por modéstia, a Carta do Conselho e outros títulos e condecorações, com os quais o Rei o queria distinguir.Fonte: Gustavo Ferreira Pinto Basto / Discurso proferido no Salão Nobre da Câmara Municipal de Aveiro, em 4 de Maio de 1952 / por António Christo / Separata do Relatório de gerência de 1952, da Câmara Municipal de Aveiro, ed. CISAC, Anadia, 1953.
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Infante D. Pedro
1392 - 1449
Nasceu em Lisboa em 1392 e faleceu em Alfarrobeira, em 1449. Conhecido por regente, o das Partidas, e o de Alfarrobeira, deu o nome ao Parque Municipal de Aveiro e foi um dos primeiros a adquirir o título de duque de Portugal. D. Pedro foi senhor de Aveiro, Coimbra, Montemor-o-Velho, Tentúgal, Pereira, Condeixa e Treviso, na Hungria.
Foi um homem culto, de espírito cosmopolita e anti-feudal, viajante, contemplativo, cavalheiresco, prudente, sábio e devoto de Nossa Senhora do Pranto, da Piedade ou da Misericórdia. Ao Infante se deve a criação em Coimbra do estudo geral, onde se veio a ensinar leis, teologia e artes, e em Aveiro, o convento dominicano de Nossa Senhora da Misericórdia, assim como, a construção da muralha da vila.
A porta da Vila ostentava inclusive o brasão do Infante. Em 1428, o papa Martinho V, em Roma, atribuiu-lhe uma bula, que lhe permitiu reger o reino, como aos filhos primogénitos, dos reis de Portugal. Ainda durante esse mesmo ano regressou à pátria e opôs-se à expedição a Tânger. Em 1446, o Infante, em nome de D. Afonso V, promulgou o primeiro código civil português, as Ordenações Afonsinas, pilar do poder soberano da monarquia moderna e o grande corte com o sistema político da Idade-Média. Intrigas e acusações inauditas de nobres, culminam, na morte do Infante, na batalha de Alfarrobeira, em 20 de maio de 1449.
Entre as obras mais relevantes, do Infante, destaca-se o Livro da Virtuosa Benfeitoria, De Oficiis de Cícero (tradução) e a Carta de Bruges.
Fonte: Aveiro / Notas Históricas, João Gonçalves Gaspar, ed. C.M.A., 1983.
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Isabel da Luz Figueiredo
[?] - 1685
Notável Mecenas e Benemérita aveirense - nascida em Aveiro, na terceira década do século XVII, "mulher donzela", provinha de famílias, de ambos os lados, associadas aos negócios do mar. Por formas diversas, acumulou uma considerável fortuna que, em último caso, reverteu para a Santa Casa da Misericórdia e, sobretudo, para o seu hospital, mas de forma que fosse muito beneficiado o convento de Santo António, por sua devoção à Ordem de S. Francisco (e beneficiou outras confrarias aveirenses). Daqui resultou um período de grande conforto para os principais beneficiados, facto que o cronista dos Franciscanos não deixou de salientar, em obras realizadas, peças de arte e alfaias.
Instituiu uma colegiada, com sede na igreja daquela instituição, onde seriam cantados os ofícios divinos com qualidade e regularidade igual às grandes Dioceses e catedrais portuguesas, assim pretendendo igualar Aveiro ao melhor que, ao tempo, havia no reino.
Deu também atenção à protecção de mulheres de poucos recursos existentes na vila e, bem assim aos pobres em geral. O seu funeral, em Abril de 1685, foi um cortejo extraordinariamente participado e grandioso, por honra dos seus conterrâneos e dos beneficiados, podendo dizer-se que foi uma autêntica "festa barroca", ao gosto da época.
Aquela colegiada manteve-se entretanto, sempre em altos pagamentos aos seus membros, no exercício da melhor Música canónica, por mais de século e meio, sendo, neste aspecto, uma verdadeira Mecenas da vila. Não obstante a sua manifesta benemerência e a sua acção mecenática, paira sobre ela, na memória colectiva, um silêncio confrangedor, certamente porque o nosso maior historiógrafo antigo, Rangel de Quadros, não tendo conseguido identificar-lhe quaisquer membros da família, para enquadramento social – situação, felizmente, já ultrapassada – fez dela um sucinto esboço biográfico. Justifica-se, pois, reabilitar quem tanto bem fez a tanta gente, pondo ao serviço da sociedade a quase totalidade dos seus imensos recursos, muito embora se aceite e compreenda a sua opção de vida de recato e "observância franciscana".
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Jaime Inácio dos Santos
1874 - 1942
Arquiteto hábil e figura cimeira do movimento artístico Arte Nova, em Portugal, que nasceu em 1874 e faleceu em 1942.
Este conceituado profissional, que fez parte da elite cultural da vida aveirense, foi aluno da Escola de Belas Artes no Porto, e exerceu extraordinárias funções na Direcção das Obras Públicas, nomeadamente presidindo às comissões de inspecção aos prédios urbanos do distrito e exercendo funções de fiscal, em obras promovidas pelo erário público ou municipal como ao Asilo-Escola e ao novo Hospital da Misericórdia. Foi, enquanto arquitecto chefe, na secção de obras da Câmara Municipal de Aveiro, responsável por muitas das autorizações de construção civil na década de 30 do século XX e ainda membro do executivo.
Individualidade muito viajada e de raras capacidades, devemos-lhe obras de gramática Arte Nova e de carácter ecléctico como a planta da casa nº. 13, na Rua Eça de Queirós, datada de 1908, e a do edifício da Avenida Dr. Lourenço Peixinho, nº. 158 a 162, datado de 1923.
No Arquivo Municipal de Aveiro constam várias plantas assinadas pelo seu punho, umas desvelando soluções de compromisso com as correntes estéticas de feição académica, outras de maior autonomia na confecção arquitectónica.
Como arquiteto são ainda conhecidos trabalhos em Coimbra, Lisboa, Curia / Mogofores e Mealhada.
Fontes:
Boletim Municipal de Cultura, Nº. 33, pp. 32 a 35 e 73, ed. CMA;
Campeão das Províncias, Nº. 5775, de 25 de Julho de 1908, p.2. -
Jaime Magalhães Lima
1859 - 1936
Nasceu em Aveiro, em 1859 e faleceu em Eixo, em 1936.
Ínclito aveirense, político, franciscano por devoção, enérgico escritor, pensador interveniente, poeta, contista, naturalista, ensaísta, conferencista, jornalista, publicista e crítico, este insigne fez os seus estudos preparatórios, em vários colégios, em Aveiro. Frequentou a Universidade de Coimbra, onde se diplomou em Direito; foi funcionário da Agência do Banco de Portugal e director da Caixa Económica de Aveiro; Provedor da Santa Casa da Misericórdia; vogal do Conselho do Distrito; representante do Partido Monárquico; deputado às Cortes por Viana do Castelo e Aveiro; dirigente do Partido Regenerador Liberal, Governador Civil e Presidente da Câmara Municipal de Aveiro.
Este ilustre era um homem simples, coerente e viajado, exemplo de virtudes cívicas e morais, e grande admirador de S. Francisco de Assis, Leão Tolstoi e vultos nacionais, como Antero de Quental, Oliveira Martins e Eça de Queirós. Da admiração que tinha pela natureza resultou a plantação científica de eucaliptos, na sua quinta em Eixo, cultura pioneira, em termos nacionais e da que tinha por Tolstoi, a divulgação da literatura russa do século XIX.
Jaime Magalhães Lima, colaborou, intensamente, até ao fim da sua vida, em várias revistas e jornais como: A Província; as Novidades; o Repórter; o Nacional; a Tarde; o Jornal da Noite; o Diário Ilustrado e a Vitalidade, assim como na tradução de obras estrangeiras. Do seu legado ideológico-literário destaca-se, Estudos sobre a Literatura Contemporânea; O Sr. Oliveira Martins e o seu Projecto de Fomento Rural; A Democracia – Estudo sobre o Governo Representativo – A Arte de Estudar; Cidades e Paisagens; As Doutrinas de Leão Tolstoi e O Transviado – Notas de Um Provinciano.
Em homenagem a este ilustre, a autarquia erigiu um busto, no Jardim Infante D. Pedro, descerrou diversas lápides toponímicas, em Aveiro e Eixo e atribuiu o seu nome à Escola Secundária de Esgueira. A Portucel em 1986 homenageou-o, publicando o livro Entre Pastores e Nas Serras.
Fonte: Aveirenses Notáveis, por Rangel de Quadros, Aveiro, 2000.
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João Afonso de Aveiro
Nasceu e faleceu em data e lugar incerto. Diversas são as opiniões sobre este insigne: para alguns autores trata-se de um heróico marinheiro aveirense, que enobreceu Aveiro e nada teve a ver com a conspiração ao rei, D. João II; para outros, de um poeta palaciano, de renome; e para outros ainda, de um ilustre navegador e simultaneamente afamado poeta do século XV.
Enquanto piloto, este ilustre participou na expedição à costa da Mina, em 1481 e na descoberta do Rio Zaire e Reino do Congo com Diogo Cão, em 1484. A este navegador se associa também a vinda da primeira pimenta proveniente da Guiné, para Lisboa, assim como a descoberta do Benim, em 1486, também designado por Terras de João Afonso ou Terras de Afonso de Aveiro, onde este egrégio estabeleceu uma feitoria. Mas a verdadeira glória do navegador adviria das informações que este trouxe a D. João II, quer das terras descobertas, quer de um rei chamado Ogané, que para o monarca se tratava de Preste João das Índias.
Enquanto escritor, João Afonso fora um poeta palaciano, criado de D. Diogo, Duque de Beja e irmão de el-Rei D. Manuel, que deixou manuscrito um livro de poesias, que se encontra guardado na livraria do Convento de S. Domingos, em Lisboa. Quanto ao seu nome, este figura no catálogo dos poetas portugueses do século XV e no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende.
João Afonso de Aveiro deu o seu nome a uma das escolas preparatórias do concelho e dispõe de estátua no largo do Rossio, erguida em 1959, pelo Ministério das Obras Públicas, aquando da Comemoração das Festas do Milenário de Aveiro.
Fonte: João Afonso de Aveiro / Introdução a Um Estudo Sobre o Famoso Navegador Aveirense / Separata do Vol. XVII do Arquivo do Distrito de Aveiro, Aveiro, 1951.
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João Augusto Marques Gomes
1853 - 1931
Nasceu em Aveiro, em 1853 e faleceu na mesma cidade, em 1931. Homem culto e generoso, jornalista, estudioso das artes nacionais, conceituado historiógrafo local, dirigente de agremiações religiosas e culturais, acérrimo defensor da ideia de criação de um museu regional, foi o organizador e o primeiro Director do Museu de Aveiro.
A este emérito deve-se a descrição e divulgação de inúmeros e relevantes factos aveirenses, assim como nacionais e internacionais. Divulgou valências como a história, a arte e o quotidiano, de quase todas as vilas do Distrito, através da sua colaboração assídua com o jornal “Campeão das Províncias”, a revista “O Distrito de Aveiro”, a Illustração Portuguesa e a Illustração Moderna. Ainda ao nível da ação, é de referenciar que este aveirógrafo se distinguiu também pelo apoio que concedeu a artistas e à indústria cerâmica local, nomeadamente às Fábricas Fonte Nova, Vista Alegre e Santos Mártires – Aleluia.
Das suas obras destacam-se: Memórias de Aveiro, em 1875; O Distrito de Aveiro; Lutas Caseiras – História dos Acontecimentos Políticos em Portugal, de 1834 a 1851; Aveiro, Berço da Liberdade e Subsídios para a História de Aveiro.
O nome deste aveirógrafo consta da Real Academia de História e da Academia de Ciências de Lisboa.
Fonte: Correio do Vouga, datado de 20.12.1931; Arquivo, XIX, págs. 145 e ss.; XXIX, 263; XLI, 243, 250, 253; Aveiro e o Seu Distrito / Antologia Aveirense / Marques Gomes – Notas Biográficas, por Amaro Neves, Nº. 36, Publicação Semestral da Assembleia Distrital de Aveiro, 1986, págs. 41 a 44.
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João Henrique Adolfo Von Hafe
1855 - 1930
Ilustre engenheiro da JARBA (Junta Autónoma da Ria e Barra de Aveiro) nasceu em 1855 e faleceu em 1930.
Da sua acção destacou-se, o Estudo e o Projecto de Melhoramento da Barra, em 1925 e 1927 respectivamente, onde actuou e defendeu a construção de um dique de concentração de correntes e o prolongamento do molhe norte, em mais 300 metros em direcção ao mar. Este projecto viria a ser aprovado, em 1930, depois de aperfeiçoado pela Missão Inglesa (firma inglesa, especializada e consultada para esta matéria a pedido do Ministério das Obras Públicas) vindo a servir de pedra basilar na primeira fase do plano portuário de Aveiro.
O Eng.º Von Hafe propugnou também por uma Barra a 18 pés, à custa do prolongamento do Molhe Norte e sem dragagens.
A este ilustre se deveu também o Anteprojecto de um porto de comércio e de pesca que propunha um plano geral de construção do porto interior de Aveiro.
Fonte:
Arquivo do Distrito de Aveiro, 1947, Vol. XIII
A Barra e os Portos da Ria de Aveiro 1808 - 1932, APA- Administração do Porto de Aveiro, 2008
Porto de Aveiro: Entre a Terra e o Mar, Inês Amorim, 2008 -
João Jacinto de Magalhães
1722 - 1790
Nasceu em Aveiro a 4 de novembro de 1722 e morreu em Islington, próximo de Londres em fevereiro de 1790. Filósofo, cientista e aventureiro foi considerado um dos mais notáveis portugueses da segunda metade do século XVIII.
Este ilustre ingressou no colégio do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, em 1743 e tornou-se frade da mesma ordem, adquirindo o nome de Frei João de Nossa Senhora do Desterro. Em 1754 obteve do Papa Bento XIV, a secularização, abandonando definitivamente a vida claustral. Em 1764 fixou-se em Inglaterra, onde se dedicou ao estudo da física e contribuiu para o progresso desta ciência. Em Inglaterra interveio ativamente noutros domínios científicos, como a Medicina, a Agricultura e a Química, bem como se dedicou à divulgação das inovações científicas e industriais, que ocorreriam à época nesse país.
Na sequência da sua dedicação científica, projetou e aperfeiçoou diversos instrumentos matemáticos como: quadrantes, sextantes e octantes para navegação, pêndulas, barómetros, agulhas de marear, balanças, relógios e máquinas de Atwood, introduziu melhoramentos na construção dos relógios de pêndulo, da balança de precisão e concebeu o barómetro de viagem portátil, entre outros objectos.
Este ilustre foi autor de vários artigos científicos, bem como editor e tradutor. De entre os seus trabalhos editados e traduzidos, destaca-se a: Colecção de Diferentes Tratados Acerca dos Instrumentos de Astronomia e Física, a Descrição e Uso dos Novos Barómetros, Para Medirem a Altura das Montanhas e a Profundidade das Minas, o Essay sur la Nouvelle Theorie du Feu Élémentaire et de la Chaleur des Corps, o Novo Epítome da Gramática Grega de Porto-Real, a Vida Venerável D. Frei Bartolomeu dos Martyres, a tradução de A Fé dos Catholicos, do Abade Platel, e o artigo A Descrição de um êndulo e de um Barómetro Portátil.
Este insigne foi membro da Real Academia das Ciências de Paris, de Lisboa, da Royal Society de Londres, da American Philosophical Society de Filadélfia e ainda das principais academias e sociedades científicas da época.
Fonte: Aveirenses Notáveis, Rangel de Quadros, Aveiro, 2000
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João Sarabando
1909 - 1996
Nasceu em 1909 e faleceu em 1996, em Aveiro.
Aveirógrafo de reconhecidas qualidades humanas e profundas convicções democráticas foi republicano e anti-fascista, desportista, publicista, jornalista-escritor, etnógrafo, ativista associativo, animador cultural, investigador e colecionador.
Este ilustre foi funcionário público da Direcção-geral das Contribuições e Impostos em Lisboa, em S. João da Pesqueira e em Aveiro. Fundou clubes e dinamizou modalidades desportivas, relacionou-se com Mário Duarte, sobre quem escreveu diversos artigos, proferiu diversas conferências e editou uma brochura evocativa em 1966. Foi um cidadão empenhado nos grandes movimentos cívicos da oposição, tendo participado ativamente na organização dos três Congressos Democráticos realizados na cidade; nas campanhas eleitorais para a Assembleia Nacional; nas candidaturas de Arlindo Vicente e de Humberto Delgado; nas celebrações do 31 de janeiro e do 5 de outubro; na batalha das Barreiras contra a Monarquia do Norte, em Águeda; nas evocações da Revolução de 1828; na tentativa de criação da Casa-Museu José Estêvão e nas ações de solidariedade que teve para com os presos políticos. Depois do 25 de Abril, integrou a primeira Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Aveiro e desempenhou as funções de vereador, entre 1974 e 1976.
Lutou pela cultura, pela defesa e valorização do património, pelo progresso social e económico, regional bem como pela valorização e reconhecimento do mérito dos mais novos. Recebeu diversas distinções enquanto jornalista desportivo e cidadão de Aveiro, foi homenageado publicamente em 1982, chegando a receber a medalha de prata da cidadeJoão Sarabando publicou, diversas obras, destas destacam-se, Cagaréus e Ceboleiros / Aveiro – Usos e Costumes; A Vida do Povo através dos Painéis dos Moliceiros; o Almanaque Desportivo do Distrito de Aveiro; o livro das Alminhas; o Cancioneiro de Aveiro e a obra Marques Sardinha e Maria Barbuda ao Desafio e ainda inúmeros títulos de imprensa, sobre as mais diversas temáticas, na sequência da sua colaboração em jornais como, A Bola, O Primeiro de Janeiro, O Comércio do Porto, A Capital, República, Diário de Lisboa, O Século ou o Norte Desportivo.
Fonte: Aveiro Imagens de Um Século / do Espólio de Coisas de Aveiro Deixado por João Sarabando, Campo das Letras, 1997. -
Jorge Botelho de Eça
Jorge Botelho de Eça foi proprietário da “Casa Morgados da Pedricosa”, uma das mais interessantes edificações aveirenses. Situada dentro do perímetro das muralhas da antiga Vila, no alinhamento do Convento de Jesus de Aveiro, a sua fachada deitava para a Rua de Jesus e o seu flanco direito para a Viela da Nora, hoje a Rua Príncipe Perfeito.
Foi a residência de Jorge Botelho de Eça, descendente da geração dos Eças de Santa Comba Dão, Familiar do Santo Ofício, por carta de 16 de junho de 1687, que exerceu os cargos de Juiz dos Direitos Reais e Escrivão da Câmara (1673 a 1701) e Almotaçaria da mui nobre e notável vila de Aveiro, pelo que ostenta um escudo esquartelado por Botelhos, por via feminina na sua mãe, Amélia Botelho de Proença, e Eças, pelo pai, João de Eça Teles (b. 3-2-1613), também ele escrivão da Câmara de Aveiro. A sua naturalidade não foi ainda apurada sendo referidos, por diferentes autores, Manteigas ou Aveiro como lugar do seu nascimento.
Jorge Botelho lega a Aveiro, não só os resultados dos prestigiosos e importantes cargos que exerceu, mas também um imóvel que será aquele que mais evidentemente perpetua a sua memória, assinalando ainda hoje a sobriedade e rigidez da arquitectura civil portuguesa chã, a que a fidalguia local foi sensível”.
(Fontes: O Distrito de Aveiro, nas Habilitações do Santo Ofício, por Jorge Hugo Pires de Lima, Coimbra, 1968, Vol. XXXIV, p.308; Vagos e Casamentos, ADA – Arquivo do Distrito de Aveiro, fls.307v-308 )
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José Estevão Coelho Magalhães
1809 - 1862
Grande tribuno português e insigne aveirense. Nasceu a 26 de dezembro de 1809, em Aveiro e morreu a 4 de novembro de 1862, em Lisboa. Aluno do convento de Santo António, onde aprendeu as primeiras letras, prosseguiu os seus estudos, com José Lucas de Sousa da Silveira e o seu tio avô paterno, com quem aprendeu Latim e Retórica com o Padre Manuel Xavier de Sousa.
Com apenas 16 anos cursou Direito na Universidade de Coimbra.
Em maio de 1828, alistou-se no terceiro Batalhão Académico, força que se manifestava contra o regime absolutista de D. Miguel. Em Aveiro conseguiu sublevar os Liberais da região.
Como consequência da sua ação, foi obrigado a interromper os estudos e a exilar-se na Galiza, juntamente, com as forças da Junta do Porto e daí para Inglaterra. Em 1829, entrou na Ilha Terceira e tomou parte nas lutas dos Açores, onde assistiu à tomada do Faial.
A 8 de julho de 1832 desembarcou no Mindelo, numa expedição comandada, por D. Pedro. Em 1834 é nomeado para o cargo de Tenente de Artilharia e contribuiu para a vitória liberal. Nesse mesmo ano regressa a Coimbra para finalizar a sua formatura. José Estevão, tal como muitos dos liberais da época, participou em várias revoluções, entre elas as que se sublevaram entre 1836 e 1851.
Em 1837 e 1851 foi eleito deputado pelo círculo de Aveiro. Enquanto eleito pediu e obteve para Aveiro, entre outros projetos:- a estrada Aveiro/Albergaria-a-Velha, em 1852;
- a estrada Aveiro/Mogofores, em 1853;
- a draga para a limpeza do cais, em 1853;
- o telégrafo eléctrico, em 1854;
- a construção do edifício do Liceu José Estevão, em 1855;
- a estrada Aveiro/Gafanha, em 1856;
- várias reabilitações, no cais, em 1860;
- a estação de Aveiro, na linha Porto/Lisboa, em 1861;
- e a estrada Aveiro/Águeda, via Eixo, em 1861.
De entre as obras que deixou impressas, é de salientar o contributo para o Districto de Aveiro, cuja publicação remonta a 1861 e os Discursos Parlamentares, compilados em colectânea, publicada em 1909, aquando do primeiro centenário do seu nascimento e reeditada em 1983 pela autarquia aveirense.
José Estevão obteve várias condecorações, entre elas, a de Torre e Espada.
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José Ferreira Pinto Basto
1774 - 1839
José Ferreira Pinto Basto
Distinto industrial, comerciante, lavrador e político, nasceu no Porto, a 16 de setembro de 1774 e faleceu em Lisboa, em 23 de outubro de 1839. De qualidades intelectuais e morais aprimoradas e de carácter empreendedor e inovador, sobretudo na área industrial, social e artística, a ele se deve, durante trinta anos, a direção das indústrias dos tabacos e dos sabões, no Porto e em Lisboa, assim como, a montagem da fábrica de moagem, a fábrica de preparação de soda, em Aveiro e a Vista Alegre em Ílhavo – empresa e escola de cerâmica de renome nacional e internacional, onde ainda, presentemente, se mantém viva a arte e a qualidade da cerâmica, da região de Aveiro.
Liberal por convicção, este vulto foi diversas vezes perseguido pelos absolutistas, que viam nele um grande adversário. Aquando da Abrilada (revolta militar entre a facção absolutista e a liberal), em 1824, chegou mesmo a ser preso. Em 1827 foi nomeado para uma comissão de melhoramento das cadeias, e, pouco depois, para uma outra comissão que tinha por objetivo o estabelecimento de um porto franco, em Lisboa. Foi provedor da Casa Pia e secretário do Conservatório Real de Lisboa, com o fim de criar artistas.
Em 1826 fundou próximo da fábrica da Vista Alegre, um colégio com internato, onde se ensinava, além da especialidade a preservar, a instrução primária e a música. Foi membro fundador, vice-presidente e presidente da Associação Mercantil Lisbonense, em 1834 e 1835. De 1837 a 1838 foi eleito deputado às Cortes Constituintes, pelos Círculos de Aveiro e Porto, e em 1839 senador por Aveiro.
O prestígio deste egrégio foi muitas vezes reconhecido, primeiro através de carta régia, datada de 12.09.1818, que lhe atribuiu o brasão de armas e depois através da sua sucessiva nomeação a fidalgo-cavaleiro, cavaleiro e comendador da Ordem de Nª Sr.ª da Conceição de Vila Viçosa, entre outros méritos.
Fonte: Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Nº 21.
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José Luciano de Castro
1834 - 1914
Homem monárquico, de firmes princípios, de espírito sagaz e patriótico, culto e enérgico, nasceu em Oliveirinha em 1834 e faleceu em Anadia em 1914.
Conselheiro, estadista, orador parlamentar, jurisconsulto, jornalista, deputado da Nação, par do reino, várias vezes Governador da Companhia Geral de Crédito Predial Português, diversas vezes ministro e presidente do Conselho de Ministros, foi um dos fundadores do Partido Progressista, partido que chefiou após a morte de Anselmo Braamcamp, em 1885.
Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, este ilustre cedo se dedicou à advocacia e ao jornalismo, colaborando nas mais diversas comissões extra-parlamentares, assim como, em jornais da época: o Observador e o Conimbricense, de Coimbra; o Campeão do Vouga, de Aveiro; o Commercio do Porto e o Jornal do Porto e a Gazeta do Povo, Paiz e Progresso, de Lisboa. Este ilustre foi também co-fundador da revista de jurisprudência, Direito.
Das suas obras publicadas, destacam-se:
- Questão das Subsistências,
- Collecção da Legislação Reguladora da Liberdade de Imprensa, em 1859
e os Discursos de 1863, 1872 e 1877.
em 1856;Fonte: Dicionário da História de Portugal, de Joel Serrão, 1981, Vol. II, pag. 17.
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José Reinaldo Rangel de Quadros Oudinot [Rangel de Quadros]
1842 - 1918
Nasceu em Aveiro em 1842 e faleceu na mesma cidade, em 1918. Homem culto de carácter nobre e fortes convições religiosas, professor, historiógrafo, dramaturgo, poeta e jornalista, distinguiu-se pelo seu amor a Aveiro cuja história, inclusive acontecimentos que viveu, tradições, factos históricos e individualidades divulgou em inúmeras páginas de jornais e livros. Este aveirógrafo, através das suas publicações, facultou a vida passada das principais instituições do Concelho, deu a conhecer as pessoas que se destacaram pela ação, no desenvolvimento do burgo e ainda as alterações que a cidade foi sofrendo ao longo dos tempos.
A Rangel de Quadros se deve obras como Aveiro – Apontamentos Históricos; Aveirenses Notáveis; O Episcopado e o Governo de Portugal – Considerações acerca da nova circunscrição diocesana e da supressão do bispado de Aveiro e dos outros bispados suprimidos em 1882 e um estudo sobre as Muralhas de Aveiro.
Fontes: Boletim Municipal de Aveiro, ANO XI – Nº. 20-21, pág. 60; Boletim Municipal, ANO XIV, Nº. 27, pág. 54; E. Pereira e G. Rodrigues, Portugal-Diccionario, Vol. VI, pág. 1119; Marques Gomes, Subsídios para a História de Aveiro, págs. 262 a 323.
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José de Pinho
1874 - 1964
Notável artista aveirense que nasceu em 1874 e faleceu em 1964. De espírito vivaz e alegre, rara sensibilidade estética e intuição invulgar, este aveirense foi destro no pincel, seguro no desenho e grande respeitador da verdade formal dos temas.
José de Pinho foi um participante ativo, no movimento associativo local, nomeadamente, foi membro dirigente dos Bombeiros Novos, fundador e animador do Clube dos Galitos, onde exerceu funções como de actor, encenador, caracterizador e de corajoso crítico, dos carnavais aveirenses, para os quais colaborou, desenhando e moldando máscaras que eram sempre de carácter magistral.
Este ilustre aveirense desempenhou também, eficazmente, o cargo de Conservador do Museu de Aveiro.
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Lourenço Simões Peixinho
1877 - 1943
Lourenço Simões Peixinho
Nasceu a 2 de maio de 1877, na Rua das Barcas (atual Rua José Rabumba), em Aveiro e faleceu a 7 de março de 1943, na mesma cidade. Homem Empreendedor, Médico, Presidente de Câmara durante um quarto de século e Provedor da Santa Casa da Misericórdia. Foi benemérito do novo Hospital de Aveiro e enquanto Presidente de Câmara responsável pelo progresso e pela modernidade urbana.
A este ilustre consagra-se obras assinaláveis, como:
- a concretização da abertura da principal artéria da Cidade, a Avenida Central, atual Avenida Dr. Lourenço Peixinho;
- a construção do Parque D. Pedro, o prolongamento do então Jardim Público;
- a construção do estádio Mário Duarte;
- dos lavadouros públicos de S. Roque;
- da Colónia Balnear Infantil da Barra;
- do mercado Manuel Firmino;
- a electrificação da cidade a partir de 1921;
- a criação da Sopa dos Pobres
- e a remodelação do edifício dos Paços de Concelho, retirando-lhe a cadeia.
- À sua gerência deve-se também a construção do cemitério sul, perto da passagem de nível de S. Bernardo; bem como as instalações sanitárias da antiga praça de Luís Cipriano; o projeto da rede de abastecimento de águas; a construção de vários recintos de jogos no Parque; os dois quartéis de Bombeiros (anteriores aos atuais) e a colocação do monumento de evocação aos mortos da primeira grande guerra, no início da Avenida, perto do edifício da atual Assembleia Municipal.
Em sua homenagem e forma de reconhecimento da sua obra foi colocado em frente à estação de caminho de ferro, um busto em bronze, em 4 de maio de 1952.
Fonte: O Discurso da Cidade / Leituras da Avenida Lourenço Peixinho, de Rosa Maria Oliveira, ed. C.M.A, 2001, pags. 31 a 33.
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Luis Gomes de Carvalho
1771 - 1826
Nasceu em 1771 e faleceu em 1826.
De carácter austero, este notável foi diretor das obras da Barra até 1823, onde se destacou pela abertura e fixação da Barra, em 1808 e pela construção do molhe que viria a designar-se de Molhe Sul, no período de 1802 a 1808.
A este engenheiro se deveu também o plano de intervenção no percurso e na embocadura do Rio Vouga, assim como o Plano de Fortificações para a nova Barra projectada. Foi Sargento-mor; Tenente-coronel do Real Corpo de Engenheiros; Membro da Real Sociedade Marítima, Militar e Geográfica; Director e Inspector das Obras da Barra.
Este insigne enfrentou as invasões francesas de Soult e de Massena, desempenhando funções como de Quartel Mestre-General e Comandante da Engenharia do Exército de operações, até à restauração de Lisboa, e depois o cargo de Comandante dos Engenheiros do Exército Norte. Foi no entanto, na concretização dos projectos do coronel Reinaldo Oudinot, para a abertura da Barra, entre o Forte Novo e a Nª Sª das Areias, em S. Jacinto que Luís Gomes se destacou, com intervenções no Rio Vouga e Cértima; nos diques; na rede de estradas envolventes e no cais da cidade.
A este insigne se deveu a redacção da primeira parte da Memória Descritiva ou Notícia Circunstanciada do Plano e Processo dos Efectivos Trabalhos Hidráulicos Empregados na Abertura da Barra de Aveiro.
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Mário Duarte
1869 - 1939
Nasceu em Arcos de Anadia em 1869 e morreu em 1939, em Aveiro.
De personalidade forte e indomável, foi amigo íntimo de vários jornalistas e homens de letras, como António Nobre. Diretor de Finanças, administrador do concelho de Ílhavo e colaborador de vários jornais desportivos, cedo se radicou em Aveiro. Por diversas vezes presidente do Congresso da Federação Portuguesa de Futebol e Fundador da Associação de Futebol de Aveiro, Mário Duarte fora antes de mais, um desportista exímio, cultor de inúmeras modalidades, como: ciclismo, ténis, tiro, tauromaquia, futebol, natação, ginástica, remo, esgrima, rugby, jogo do pau, golfe, lutador da modalidade greco-romana e halterófilo. Na velocipedia competiu com adversários, como Bento Pessoa e Orquelles, entre outros aureolados. No futebol brilhou na Académica, de Aveiro. No remo, no Clube Mário Duarte, colheu diversas vitórias, assim como, no Beira-Mar, enquanto jogador de pólo aquático. Foi também o primeiro português a correr em charutos, isto é, em skiff. Em 1896 e 1898, foi campeão nacional de ciclismo, em Vila de Conde e em Lisboa.
Ainda durante o decurso do ano de 1898 organizou a primeira corrida de ciclismo na estrada Aveiro-Coimbra, vindo depois, a ser Diretor da União Velocipédica Portuguesa, antecessora da atual Federação de Ciclismo. Em 1898, por ocasião do Centenário do Descobrimento da Índia, brilhou entre os campeões da tauromaquia nacional.
No futebol, dirigiu e treinou a equipa do Ginásio Aveirense. Palaciano e popular foi companheiro e amigo pessoal do rei D. Carlos. De 1900 a 1907, disputou com o monarca, a taça anual Eduardo VII, oferecida pela majestade inglesa, vindo a adquirir reputação internacional, na modalidade de Tiro e a sua espingarda ganhou fama.
Mário Duarte promoveu a cidade e a ginástica, que considerava ser a espinha dorsal do desporto. Fundou o Ginásio Aveirense, à época considerado, um dos melhores do país e que segundo a imprensa local, muita animação trouxe à região, devido aos eventos, que aí se organizavam, como: festas, touradas, regatas de remo, passeios e corridas de bicicletas, provas de natação, entre outras. A seu pedido, todas as classes do Ginásio dispunham de vigilância médica e da orientação de professores competentes. Mário Duarte gozava de prestígio nacional e internacional, em Espanha, França e Brasil, onde acompanhava, oficialmente as selecções nacionais.
Mário Duarte editou em 1893, a publicação Ovos Moles e Mexilhões, que se subintitulava Besbelhotice Mensal d´Aveiro. Em 1895, dirigiu o Le Portugal Philatélique e nos fins da primeira década do século XX, o Distrito de Aveiro, bissemanário fundado pelo egrégio, José Estevão Coelho de Magalhães. Considerado um dos principais impulsionadores do futebol em Portugal, o nome de Mário Duarte está hoje perpetuado no Estádio Municipal de Aveiro.
“Mário Duarte, um colosso que foi, por seus Méritos, em tantos aspectos e todos eles de tanto alcance, ficou a ser um dos poucos grandes pioneiros do desporto em Portugal“ - Ricardo Ornellas
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Mário Sacramento
1920 - 1969
Médico, político, ensaísta, crítico literário, homem de espírito independente, determinado, frontal, democrático, generoso e grande defensor dos Direitos Humanos, foi conhecido por médico dos pobres.
Nasceu em Ílhavo, em 1920, mas era de Ílhavo e de Aveiro. Viveu entre a medicina e a política, mas a paixão era a literatura. Este ilustre foi aluno e dirigente académico do Liceu José Estêvão e enquanto presidente da Academia do Liceu presidiu ao jornal dos alunos Voz Académica e promoveu diversas homenagens, entre elas, a Homem Cristo e a Agostinho da Silva. Este insigne foi sucessivamente, aluno da Faculdade de Medicina, de Coimbra, Porto e Lisboa e simultaneamente membro da Comissão Central de Movimento da União Democrática Juvenil (MUD Juvenil). Depois de concluído o curso, exerceu medicina em Ílhavo e Aveiro, onde fixou residência.
Em 1960 foi bolseiro do governo francês, no Hospital de St. Antoine, onde se especializou em gastroenterologia. Em 1965, representou a Sociedade Portuguesa de Escritores, em Itália, no Congresso dos Escritores Europeus. Em 1969 tornou-se secretário-geral do primeiro congresso republicano e logo de seguida mentor do segundo congresso de Oposição Democrática em Aveiro. Durante a sua intensa actividade política, este aveirense embrenhou-se num longo diálogo com os católicos, progressistas de Aveiro e participou ativamente, na campanha eleitoral para a eleição de Arlindo Vicente à Presidência da República, em 1958. Em 1967 redigiu o seu testamento político.
Do seu contributo literário destaca-se, Ensaios de Domingo, Fernando Pessoa – Poeta da Hora Absurda e o seu derradeiro artigo Último publicado no jornal O Litoral, em 1969. Dos livros que prefaciou, salienta-se: Horas Vivas, de Natália Correia, O Homem na Cidade, de diversos autores e Praça da Canção, de Manuel Alegre.
Este ilustre colaborou também em diversas revistas como Seara Nova e Vértice e ainda na seção de crítica literária do Comércio do Porto, do Diário de Lisboa e do Litoral. Sob vários pseudónimos, Mário Sacramento escreveu para jornais como, Independência de Águeda, Jornal do Minho, entre outros.
Presentemente o nome de Mário Sacramento dá nome a uma rua e a uma das escolas secundárias de Aveiro e ainda consta da toponímia de Ílhavo, Cova da Piedade, Setúbal e Loures e o seu rosto foi desenhado, esculpido e perpetuado por pintores e medalhistas.
Fonte:
Aveirenses Ilustres / Retratos à Minuta, ed. X Encontro de Professores de História da Zona Centro, Aveiro, 1992; Ruas que são Gente, por Carlos Campos, Fausto Ferreira e Gabriela Amorim Faria, ed. C.M.A., 2000. -
Manuel Costa e Melo
1913 - 2002
Manuel da Costa e Melo nasceu no concelho de Águeda, em 1913, e faleceu em Aveiro, em 2002. Homem de convições fortes, politicamente empenhado na luta contra o regime fascista e um dos organizadores dos Congressos da Oposição Democrática.
Advogado, político, escritor e autor de vários livros sobre a vida forense, militante da União Socialista, do MUD, da Ação Socialista Portuguesa e do Partido Socialista, de que foi um dos fundadores, desenvolveu nessas organizações políticas diversos cargos a nível regional e nacional. Exerceu ainda atividade cívica e reivindicativa nas campanhas eleitorais de Norton de Matos e Humberto Delgado em diversas eleições para Deputados à Assembleia Nacional e nos Congressos Republicanos de Aveiro em 1957, 1969 e 1973.
Preso três vezes pela P.I.D.E., por oposição ao regime, este ilustre esteve em reclusão, em Caxias, juntamente com Mário Sacramento, João Sarabando e outros políticos da época.
Após o 25 de Abril este insigne foi membro integrante da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Aveiro e Governador Civil de Aveiro entre setembro de 1976 e fevereiro de 1979.
Durante o seu percurso de vida este conceituado ilustre colaborou na imprensa regional e em publicações de Lisboa e Porto.
Deste aveirense ficaram obras como: Memórias Cívicas 1913 – 1983; Gente de Toga e Beca; Antes e Depois de Abril; A Ria a Preto e Branco e Ecos do Mesmo Grito.
Fontes: Memórias Cívicas 1913 -1983, de Manuel da Costa e Melo, ed. Almedina -Coimbra, 1988; Diário de Aveiro de 21 de agosto de 2004 e Correio do Vouga de 24 de setembro de 1976.
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Manuel Firmino d'Almeida Maia
1824 - 1897
Manuel Firmino de Almeida Maia
Nasceu em Aveiro, em 1824 e faleceu em 1897.
Conselheiro, ilustre jornalista, homem público e oficial de cavalaria, este aveirense de espírito empreendedor e anti-cabralista, foi regedor da freguesia de Avanca, tenente-ajudante do batalhão de Estarreja, deputado à Câmara Constitucional, presidente da Câmara Municipal de Aveiro, em vários biénios, Governador Civil substituto e Par do Reino.
Enquanto jornalista fundou o célebre jornal Campeão do Vouga e enquanto deputado, em diversos mandatos, propôs várias medidas de âmbito nacional e local, nomeadamente, apoiou a subida dos salários dos professores primários e opôs-se à proposta de extinção do Distrito de Aveiro.
Este ilustre empenhou-se também na organização de companhas de pesca na costa de S. Jacinto e dirigiu o processo de salvamento das vítimas do naufrágio, do navio francês Nathalie, que lhe valeu a condecoração do Governo francês, com a Cruz da Legião de Honra, pela coragem e determinação demonstrada.
A Manuel Firmino se deveu também:
- a proposta de criação de um corpo de bombeiros voluntários, para a cidade;
- a publicação das contas públicas no jornal local;
- a cobrança de impostos sobre carnes verdes, por funcionários da Câmara;
- a abertura de diversas estradas;
- a construção de malhadas, nas margens da ria, para descargas de moliço;
- a canalização de esgotos;
- a construção do mercado municipal das frutas e legumes;
- do jardim público de Aveiro;
- de um novo quartel militar, no local do antigo Convento de Sá, para instalar o regimento de cavalaria nº 10 e a iluminação da cidade a gás.
Este ilustre foi condecorado também pela casa real portuguesa, com a medalha de ouro por mérito, filantropia e generosidade
Fontes:
Calendário Histórico de Aveiro, por António Christo e João Gonçalves Gaspar, ed. C.M.A., 1986 e Aveirenses Notáveis, por Rangel de Quadros, ed. C.M.A., 2000 -
Manuel José Mendes Leite
1809 - 1887
Erudito, jurisconsulto, soldado e político intemerato de grandes méritos, que primou pelo combate cívico, pela defesa da carta constitucional, pelo princípio da separação de poderes e pelo direito de voto universal. Aveirense de espírito liberal, grande defensor de ideais como o da liberdade, da democracia, da vida humana e da abolição da pena de morte, para os crimes políticos, homem de grande talento, que recusou honrarias e títulos.
Este ilustre nasceu a 18 de maio de 1809 e faleceu nesta mesma cidade, em 1887, frequentou a aula de primeiras letras (o equivalente à instrução primária) e aulas de gramática e línguas latinas, no convento de Santo António, matérias nas quais se tornou um profundo conhecedor, bem como aulas de Lógica, Retórica, História e Leis na Faculdade de Cânones e Leis da Universidade de Coimbra, local onde se distinguiu pelo talento e se iniciou na atividade política e militar.
Enquanto soldado e político, este vulto destacou-se pela ação ao nível do Batalhão de Caçadores 10 e do Terceiro Batalhão Académico, cuja oposição ao governo em vigor o afastou da vida académica e o obrigou ao exílio, primeiro para a Galiza e depois para Plymouth, em Inglaterra, onde absorveu os princípios do parlamentarismo inglês e contactou com movimentos humanitários, como, aquele que proibia o tráfico de escravos nas colónias britânicas.
Terminada a guerra civil entre miguelistas e liberais e com a assinatura da convenção de Evoramonte, Mendes Leite regressou à pátria, reingressou de novo na Universidade de Coimbra e concluiu a licenciatura em Direito. Setembrista (designação dada à corrente mais à esquerda do movimento liberal, que nasceu com a Revolução de setembro de 1836) de ideologia, este insigne foi secretário-geral e governador civil do Distrito de Aveiro; presidente da Câmara Municipal; deputado às Cortes pelo círculo de Aveiro, por diversas vezes; comandante do batalhão da Guarda Nacional; co-fundador do jornal diário, liberal de esquerda, Revolução de Setembro; um dos fundadores do jornal Districto de Aveiro; juiz na Confraria do Santíssimo Sacramento; responsável pelo aditamento à Carta Constitucional, que estabeleceu a abolição da pena de morte, para os crimes políticos; fundador do movimento denominado Setembrismo; Juiz de Direito, em regime de substituição; Provedor da Misericórdia; Presidente da Associação Comercial; Director da Caixa Económica; Conselheiro do Distrito e Procurador à Junta Geral. Anti-cabralista (Cabralismo, sistema político, que vigorou em Portugal, durante o ministério de Costa Cabral, 1803-1889) por convicção, Mendes Leite, liderou a organização de milícias anti-cartistas, instalou-se no Porto onde fez parte da Junta Governativa, com a pasta da Marinha. Ainda no âmbito da acção política e social promoveu a construção de um teatro no quartel de S. Domingos.
Aveiro dispõe de uma Rua em sua homenagem.
Fonte: Aveirenses Notáveis / Apontamentos Históricos, Rangel de Quadros, ed. C.M.A., 2000
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Manuel de Almeida Trindade
1918 - 2008
Bispo Emérito de Aveiro nasceu no lugar da Relva, em Monsanto da Beira, em 1918 e faleceu, em Coimbra em 2008.
Homem culto, democrata, de carácter nobre, tranquilo, discreto, generoso, atento, esclarecido, interventivo, solícito e grande defensor dos direitos cívicos. No âmbito da sua acção multiforme, norteou-se pelos valores da Humanidade, Solidariedade e Simplicidade, fomentando a inclusão social e económica dos mais desfavorecidos, valorizando as vocações consagradas e dedicando-se de forma inexcedível ao seu ministério episcopal, tendo a sua acção ultrapassado as fronteiras diocesanas.
Do percurso de vida do ilustre aveirense, destaca-se a frequência do Seminário de Coimbra em 1930; da Universidade Gregoriana, em Roma, no ano de 1934, onde se diplomou em Filosofia e Teologia; a sua ordenação como sacerdote, em 1940, na Capela do Seminário de Coimbra, pelo Bispo D. António Antunes; a sua imediata nomeação como membro da Equipa Formadora do Seminário Maior de Coimbra; a sua eleição, em 1942, como Reitor do mesmo Seminário, onde permaneceu até 1962, ano em que, fora eleito, Bispo de Aveiro, pelo Papa João XXIII, a sua participação em Roma, em todas as sessões do Concílio Ecuménico Vaticano II (1962-1965), em Quatro Sínodos Mundiais de Bispos, aos quais presidiu, também durante dezoito anos, por eleição dos seus colegas, à Conferência Episcopal Portuguesa entre 1972 e 1975, em muitas reuniões internacionais e em muitas assembleias plenárias do Episcopado português durante trinta anos e ainda foi membro da Sagrada Congregação dos Sacramentos e do Culto Divino.
A sua ação extremamente prudente e conciliadora permitiu-lhe congraçar as populações dos lugares que já formavam as paróquias de Nossa Senhora de Fátima e Santa Joana, o que veio facilitar a criação destas duas novas freguesias, na década de 80.
Este ilustre tomou posse da Diocese de Aveiro, por procuração, no dia 8 de dezembro de 1962 e entrou solenemente nesta Diocese a 23 de dezembro, onde permaneceu até 20 de janeiro de 1988. Na Diocese realizou um notável trabalho pastoral, junto de sacerdotes, seminaristas, leigos e Seminários, bem como nas visitas pastorais, onde teve o cuidado de imprimir na sua ação o espírito renovador do Concílio. Quando alcançou o Jubileu episcopal, e depois de deixar marca indelével na Diocese de Aveiro, já próximo dos 70 anos, abandonou a Diocese e regressou ao Seminário de Coimbra, onde continuou a ter uma vida intensa e preenchida, ao dedicar-se à escrita.
A este ilustre foi atribuída, a 7 de dezembro, de 1987, a Medalha de Mérito Municipal em Ouro e depois o nome a uma alameda da freguesia de Santa Joana.
Da sua obra publicada, salienta-se O Padre Luís Lopes de Melo e a Sua Época (1885-1951), do qual recebeu o prémio Alexandre Herculano; o opúsculo A man for all season (Um homem para a eternidade) que serviu de apresentação ao filme de Fred Zinnemann e Memórias de Um Bispo, obra de cariz autobiográfica, onde relata o seu percurso de vida, nomeadamente a sua viagem à terra Santa e dá a conhecer a História Civil e da Igreja em Portugal, nas últimas décadas do século XX, bem como os primórdios da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) e a colegialidade episcopal, do qual foi presidente durante três mandatos.
Fonte: Memórias de Um Bispo, de Manuel de Almeida Trindade, Coimbra, 1993.
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Maria Aurora Munõs Puig de Valente [Condessa de Taboeira]
1861 - 1945
D. Maria Aurora Ângela Benigna Inês da Santíssima Trindade de Muñoz y Puig Peñalver y Fernandez – Condessa de Taboeira:
Senhora inteligente, culta, benemérita, acérrima defensora da democratização da educação e de basilares princípios morais, a quem se deve a junção do topónimo – Taboeira ao título nobiliárquico de seu marido – o Conde de Taboeira. Descendente de fidalga nobreza espanhola, a conceituada Senhora nasceu em 1861 em Zamora e faleceu em 1945 em Lisboa. Não teve descendência.
Aos 44 anos então já viúva ficou com a responsabilidade de administração de inúmeros bens que possuía e que se encontravam dispersos pelo país. Dedicou-se ainda à publicação de artigos diversos sobre educação e moral, em jornais, antigos. A atitude de visitação, conforto e generosidade desta afamada Senhora para com os enfermos e os mais desafortunados, marcou indelevelmente, as gentes de Taboeira. Presentemente, a antiga casa da Condessa ainda constitui para a população um símbolo de virtudes que merece o respeito geral da população.
A Condessa de Taboeira foi agraciada pelo rei Afonso XIII de Espanha com condecorações comemorativas, enquanto descendente de ilustres combatentes pátrios que se destacaram pelo heroísmo e bravura e ainda enobrecida, com o grau de dama da secular Ordem Italiana do Santo Sepulcro, distinção que lhe fora conferida em Portugal por alta deferência merecedora.
Fontes: Sal – Boletim Municipal de Cultura / Uma Pequena Nota Sobre a Condessa de Taboeira – Dona Maria Aurora Muños Puig de Valente, por João Pereira de Lemos, ed. CMA, pp. 61-63; Cacia e o Baixo Vouga – Apontamentos Históricos e Etnográficos, por Bartolomeu Conde, ed. CMA, 1997, p. 104.
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Marnotos da Ria de Aveiro
Marnotos da Ria de Aveiro: Homens robustos e tisnados, que trabalhavam normalmente, de sol a sol, de fevereiro a setembro, nas marinhas de sal. Numa mão traziam o ancinho, noutra o ugalho da lama ou o rapão do sal. Carregavam pesadas canastras cheiinhas de sal das salinas para as eiras e destas para os barcos saleiros. Tanto podiam ser cagaréus, como oriundos de localidades como a Gafanha da Nazaré, Mira, Aradas ou mesmo, Trás-os-Montes.
Na sua maioria eram homens de fora do concelho, vinham para a marinha à segunda-feira e só regressavam a casa à sexta-feira. Dormiam no chão de feno ou de junco, ou numa caminha de madeira, no palheiro, onde também comiam o parco comer das provisões acarretadas.
No século XIX, o operário salícola trajava manaia (espécie de calção) e camisa branca em linho ou tecido cru, sem colarinho e sem punhos; faixa preta ou encarnada; barrete de fazenda de lã ou chapéu preto de aba larga e lenço vermelho de algodão estampado.
A palestra de evocação à figura do Marnoto ficou a cargo de Manuel Estrela Esteves, também ele um aveirense com forte ligação às marinhas e à produção de sal. Desde 1973, responsável pela gestão da exploração das marinhas “Corte de Baixo Grande”, “Ravasquinha”, “Paraíso Fundo”, “Paraíso do Cabeço”, “Tão Lindas Grande e Pequena”, até à sua destruição, venda, expropriação, expropriação com desmembramento e rebentamento, respectivamente.
Membro eleito em dois mandatos para a Direcção da Cooperativa Agrícola dos Produtores e Transformadores dos Sais Marinhos de Aveiro nas décadas de 1970 e 1980 – aquando da construção do armazém da CAPTSMA – e é Presidente do Conselho Fiscal desde a última eleição.
Fundador e primeiro Presidente da Direcção da APMRA – Associação dos Produtores e Marnotos da Ria de Aveiro desde julho de 2008, funções a que renunciou em Março de 2010. Representante da APMRA na Constituição da Fena.Sal – Federação Nacional de Produtores de Sal Marinho Artesanal (Portugal) em julho de 2008, e na actividade desenvolvida até março de 2010.
(Fonte: Boletim Municipal / Cultura e Património, ed. CMA, Dez. 1997, p. 48)
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Mumadona Dias
Séc. X
Mumadona Dias nasceu e morreu no século X, da era cristã. Condessa culta e poderosa do noroeste peninsular, sobrinha e aparentada dos Reis de Leão, governou a sociedade feudal antes da fundação da nacionalidade portuguesa. A esta conceituada senhora se deve os alicerces do Condado Portucalense, nomeadamente a construção do Castelo de S. Mamede e a primeira referência, ao sítio de Aveiro, e à prática da salicultura, no ano de 959.
De porte nobre e abastada em virtudes, D. Mumadona Dias foi proprietária de inúmeras terras que se estendiam da cidade de Pontevedra até aos limítrofes do Rio Vouga. Foi ainda possuidora de uma valiosa biblioteca, considerada a mais antiga de Portugal, e constituída por 20 códices que viriam a fazer parte integrante da livraria da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira.
O nome desta ilustre consta da toponímia da cidade, na rotunda onde está instalado o monumento de homenagem ao Marnoto e à Salineira, da autoria de António Quintas.
Fontes: Portugaliae Monumenta Histórica, Diplomata et Chartae, I, Doc. 76;
Vimaranis Monumenta Histórica, Guimarães, 1929;
Milenário de Aveiro, Colectânea, I, págs.1-6, 1959;
Correio do Vouga, datado de 07.03.1959;
Eixo na História, por João Gonçalves Gaspar, Eixo, 1998. -
Orlando Oliveira
1908 - 1991
Nasceu em Viseu a 30 de dezembro do ano de 1908 e faleceu em Aveiro, a 24 de fevereiro de 1991. De origem humilde e de modesta ambição, Orlando de Oliveira nutriu por Aveiro e suas vivências uma grande paixão. Este aveirense destacou-se no campo das letras, da cultura e do ensino.
Foi em 1932 que Orlando de Oliveira iniciou nesta cidade a sua vida académica. Foi depois, professor efetivo a partir de 1946, no Liceu Nacional de Aveiro, Diretor e Reitor nos anos de 1957 a 1974.
Apoiante da regionalização nacional e de políticas de descentralização, nomeadamente, no que concerne ao ensino médio e superior, Orlando de Oliveira encorajou a criação do Instituto Comercial de Aveiro, entidade precursora do actual ISCAA – Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Aveiro; do Conservatório Regional de Música; do pavilhão gimno-desportivo do INDESP; da Universidade de Aveiro e ainda de estabelecimentos vocacionados para o ensino agrícola e pecuário; de enfermagem; de náutica e ciências. Muitos foram os esforços enveredados por O. de Oliveira, junto de Ministros da Educação Nacional, da Marinha, da Saúde e Assistência, da Fundação Calouste Gulbenkian, do Governo Civil, da CMA e da Junta Distrital, para que os mesmos se implantassem na cidade. A sua perseverança permitiu-lhe, de facto, angariar os apoios almejados e concretizar alguns dos projetos actualmente existentes.
É de salientar ainda que na década de sessenta, Orlando de Oliveira exerceu ainda os cargos de Presidente da Comissão Municipal de Cultura do Concelho de Aveiro; foi membro representativo do Distrito de Aveiro, na Comissão Regional de Planeamento da Região Centro (entidade que antecedeu a Comissão de Coordenação Regional) e Vereador da Câmara Municipal de Aveiro, de 1960 a 1967, durante os mandatos do Alberto Souto e do Artur Alves Moreira.
A 18 de dezembro de 1973 a Câmara Municipal de Aveiro deliberou atribuir a Orlando de Oliveira, Reitor do Liceu local, a Medalha de Prata da Cidade pelos relevantes serviços prestados à cidade, em ordem à fundação do Conservatório Regional de Aveiro e pela criação da Universidade local.
Orlando de Oliveira, encontra-se sepultado nesta cidade que tanto admirava, no Cemitério Central.
Fontes: Aveiro e o Seu Distrito, Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro, nº. 12, 1971, pp. 21 a 26 e nº. 31, 1983, pág. 12; www.ua.pt/isca; o Litoral de 22.12.1973; Diário da República I Série, nº. 168, de 24.07.1985, Calendário Histórico de Aveiro, por António Christo e João Gonçalves Gaspar, págs. 342, 402, 418, 509; Em Prol dos Distritos - I Encontro das Beiras sobre Regionalização, Viseu 12.06.1981; Universidade de Aveiro – do sonho à realidade, por João Gonçalves Gaspar, Aveiro, 1999, ed. Universidade de Aveiro, pp. 39 a 129.
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Princesa Santa Joana
1452 - 1490
Nasceu em Lisboa em 1452 e faleceu em Aveiro, em 1490. Princesa virtuosa e padroeira religiosa de Aveiro trocou o fausto da corte, pela humildade e pobreza do convento dominicano. A princesa foi regente do reino, em 1471, aquando da ausência do rei, em África, bem como, donatária da vila de Aveiro, desde 1485, até à data da sua morte. Por diversas vezes pedida em casamento, por membros das casas reais europeias, sempre rejeitou as coroas, por se sentir inclinada para a vida religiosa.
Apesar da oposição do rei, do príncipe perfeito (D. João II), e de muitos fidalgos, a princesa frequentou o mosteiro de Odivelas e o Convento de Jesus, onde recebeu a 5 de Agosto o hábito de noviça, das mãos da prioresa D. Beatriz Leitão.
Em 1481, e após a morte de D. Afonso V, sem abandonar o convento, a princesa responsabiliza-se pela educação do seu sobrinho D. Jorge de Lencastre, futuro fundador da Casa de Aveiro.
Em finais, de Dezembro de 1489 adoece gravemente, morrendo a 12 de maio do ano seguinte. Os seus restos mortais repousam no coro baixo da igreja, do Convento de Jesus, atual Museu de Aveiro.
Fonte: Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Vol. XIV.
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Silvério da Rocha e Cunha
1876 - 1944
Nasceu em Aveiro em 1876 e faleceu na sua terra natal, em 1944. Homem de devotado espírito cívico e de isenção, culto e viajado, sereno e ponderado, de inteligência penetrante e grande conhecedor da Ria de Aveiro e do regime lagunar, bem como dos seus problemas económicos e sociais associados, foi um esclarecido propulsor da prosperidade e das estruturas portuárias locais, contribuindo para o melhoramento da Barra, do Porto de Aveiro e da Ria.
Este ilustre foi oficial da marinha; comandou e participou, no mar, em várias missões arriscadas, durante a Primeira Guerra Mundial; foi capitão do Porto de Aveiro, em várias comissões; participou na formação militar da linha do Vouga, para travar e derrotar os movimentos monárquicos dirigidos por Paiva Couceiro; foi Ministro da Marinha e um insigne estudioso da história económica local.
Dos trabalhos de relevo publicados, destacam-se: Relance da História Económica de Aveiro / Soluções para o Seu Problema Marítimo, a partir do século XVII – Conferência realizada em 14 de Junho de 1930, Aveiro, 1930; Notícia Sôbre as Indústrias Marítimas na Área da Jurisdição da Capitania do Pôrto de Aveiro, Aveiro, 1939 e O Porto de Aveiro – Conferência realizada em 5 de Maio de 1923, na sede da Associação dos Engenheiros Civis portugueses, Lisboa, 1924.
Fontes: Arquivo do Distrito de Aveiro, Vol. XLI, 1975, pag. 109 e A Barra e os Portos da Ria de Aveiro 1808-1932, por Inês Amorim e João Carlos Garcia, ed. Porto de Aveiro, 2008.
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Zeca Afonso
1929 - 1987
José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos, conhecido como Zeca Afonso, nasceu em Aveiro a 2 de agosto de 1929. Foi professor, cantor de intervenção e compositor. A sua infância espalhou-se por Aveiro, Angola, Moçambique, Belmonte e Coimbra, devido às consecutivas deslocações profissionais do pai.
Em Coimbra, prosseguiu os seus estudos liceais e começou a interessar-se pela música, quando conheceu o guitarrista António Portugal. Nos finais da década de 40, princípios da década de 50, destacou-se como cantor de fados tradicionais. A Universidade não o seduziu.
Em 1953 gravou os seus primeiros discos: “Solitário”, “O sol anda lá no céu”, “Contos Velhinhos” e “Fado das Águias” e em 1960 editou a “Balada de Outono” e “Dr. José Afonso em Baladas de Coimbra / Menino do Bairro Negro”, que incluiu “Os Vampiros”, tendo ainda gravado alguns discos de pequeno formato. Em 1963, editou “Baladas e Canções / Trovas Antigas”, single constituído por gravações já editadas em vários EP’s.
Em 1967 é publicado, pela editora Nova Realidade, o livro: “Cantares de José Afonso”.
Em 1968 é editado o álbum “Cantares do Andarilho”, em 1969 “Menina dos Olhos Tristes”, em 1970 “Traz outro amigo também” e em 1971 “Cantigas de Maio”.
Em 1972 edita o disco “Eu vou ser como a toupeira “, canta pela primeira vez na Galiza, e participa no Festival Internacional da Canção no Rio de Janeiro.
Em 1974 participa no I Encontro da Canção Portuguesa, promovida pela Casa da Imprensa. Em Abril desse mesmo ano acompanha o PREC (Processo Revolucionário em Curso) em detrimento da sua carreira artística. Colaborou ainda durante esse mesmo ano nas campanhas de dinamização cultural promovidas pelo MFA, em Trás-os-Montes. Zeca Afonso deixou praticamente de cantar.
Em 1983 realiza os últimos espetáculos, no Coliseu de Lisboa e Porto, publica o duplo álbum “José Afonso ao vivo no Coliseu” e a Assírio & Alvim, edita o livro “Textos e Canções de José Afonso”.
Em 1985 é editado o seu último álbum de originais “Galinhas do Mato”.
Em 1982 foi-lhe diagnosticado uma doença incurável, morreu a 23 de Fevereiro de 1987 vítima de esclerose lateral amiotrófica.
Muitas das suas músicas continuam a ser gravadas por numerosos artistas portugueses e estrangeiros, o que faz de Zeca Afonso um dos compositores portugueses mais divulgados a nível mundial.
Fonte: “José Afonso: O Rosto da Utopia / Cronologia da Vida e Obra de José Afonso”, por José A. Salvador, Edições Afrontamento, págs. 139 a 159.